O efeito “ostentação”
Uma das principais características de um país em desenvolvimento é o abismo que separa aqueles que têm acesso ao consumo daqueles que não têm. Note que não falo de “ricos” versus “pobres”, pois em países desenvolvidos a maioria da população tem acesso fácil a dinheiro (principalmente através de crédito), mas não são ricos.
Na minha opinião, a maior forma de discriminação que existe no Brasil é de “quem tem” contra “quem não tem”. Com isso, é muito forte em nossa sociedade as pessoas terem e desejarem determinadas coisas só para dizerem que têm e para se sentirem “superiores” em relação àqueles que não têm.
Além disso, aqueles que “não têm” não conseguem ver nenhuma perspectiva para sua ascenção social, com isso um atalho é consumir algo que crie uma fantasia, mesmo que momentânea, que eles agora fazem parte do grupo dos que “têm”.
Sei que é difícil para muitos confrontarem esse aspecto da nossa sociedade de forma tão direta, mas é a mais pura verdade. Se não fosse, não existiria serviços para aluguel de iPhone para pessoas “tirarem onda” “na balada”.
Por esse motivo, no Brasil, o “efeito ostentação” é um fator importante na decisão pela compra de um produto da marca Apple.
No Brasil ou no exterior, quanto mais elitizado for um produto, mais cobiçado ele é. E, de fato, um dos aspectos que determinam o preço de um produto é o seu posicionamento de mercado. Mas há um abismo gigantesco entre a realidade brasileira e a realidade em países desenvolvidos.
Digamos que um norte-americano queira comprar um computador da Apple, porque ele realmente acha que é melhor ou porque ele quer “tirar onda” com os amigos. Primeiro, ele vai pagar menos da metade que um brasileiro paga, em valores absolutos. Se você verificar por paridade do poder de compra (isto é, levando em consideração o salário médio brasileiro, o salário médio norte-americano e o custo de vida médio nos dois países), verá que a diferença no preço é ainda maior. Basta pensar que US$ 2.500 para um norte-americano não tem o mesmo “peso” que este valor convertido para reais para um brasileiro.
Embora nos EUA normalmente não exista financiamento de produtos eletrônicos*, o camarada pode comprar no cartão e usar o cartão para financiar a compra dele. Vai custar a ele cerca de 11% a 25% ao ano fazer essa loucura, dependendo do cartão e de seu histórico de crédito. Já o brasileiro que fizer essa maluquice vai pagar mais de 200% ao ano, mas, é claro, no Brasil existe financiamento “sem juros” no cartão de crédito e o famoso “carnê”. Contanto que a prestação caiba no orçamento mensal, brasileiro compra, mesmo que no final tenha pago o valor de dois produtos (ou pior, pelo menos quatro, em comparação a um consumidor norte-americano).
No caso de celulares, a situação é muito mais ridícula. Em países desenvolvidos, o smartphone é grátis se você optar por um plano de longa duração da operadora (que, por sua vez, é muito mais barato que um plano equivalente no Brasil e com uma rede muito mais rápida). E aí o brasileiro se arrebenta para comprar um smartphone... Só para dizer que tem um iPhone...
* A Apple permite o financiamento, mas é através de uma operadora de cartões de crédito, logo funciona tal qual um cartão convencional. Existe um formato chamado “layaway”, mas você só pode retirar o produto da loja após pagar a última prestação, funcionando mais como uma poupança forçada para comprar algo para uma data específica, como Natal, noivado ou casamento.
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