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Angola, Brasil e o Computador Popular


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Angola, Brasil e o Computador Popular

A notícia abaixo é velha, mas vale à pena ser lida.

"Angola cria projeto para segurança eletrônica
Quinta-feira, 17 novembro de 2005 - 18:28
COMPUTERWORLD

O governo angolano anunciou nesta quinta-feira (17/11), durante a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, na Tunísia, o início da implantação de um projeto relativo à segurança das comunicações eletrônicas e proteção da identidade dos habitantes do país.

A partir do ano que vem o país pretende criar uma infra-estrutura de chave pública, voltada à certificação digital, em um projeto dirigido pela WISeKey e que contará com a participação direta da Microsoft e Hewlett-Packard (HP).

Durante as reuniões da Cúpula Mundial, o primeiro ministro Fernando da Piedade Dias dos Santos declarou que "a emergência da sociedade do conhecimento exigirá de todos nós novas formas de ver a analisar o mundo (...) e novos paradigmas de governança".

Já o professor Pedro Teta, ministro Adjunto e Presidente da Comissão Nacional de Tecnologia da Informação, declarou que o país não poupará esforços para atingir níveis de desenvolvimento em ciência e tecnologia, com a intenção de aproximar-se das melhores práticas de outros continentes.

A Cúpula Mundial da Sociedade da Informação acontece até esta sexta-feira (18/11) em Tunis, capital da Tunísia."

Angola é um dos países mais pobres do mundo. A expectativa de vida da população não chega a 50 anos. O país esteve mergulhado em guerra civil e guerrilha urbana até 1999, e ainda não se recuperou. De acordo com o Governo de Angola, existem entre 5 e 7 milhões de minas terrestres enterradas no país. Há milhares de pessoas mutiladas por minas terrestres vivendo em Angola. O PIB per capita é de USD 700.00 e 58% da população não é alfabetizada. Os países ricos investem USD 16,000/ano em educação por aluno. Angola investe, na média, USD 40.00.

Conforme a nota da Computerworld, o governo de Angola não "poupará esforços para atingir níveis de desenvolvimento em ciência e tecnologia [...] para aproximar-se das melhores práticas de outros continentes". Por que um país onde mais da metade da população não sabe ler prefere investir em uma solução de criptografia de ponta, em vez de investir em educação de base?

Não encontrei estatísticas confiáveis sobre o número de computadores em Angola, mas com um PIB per capita de USD 700.00 não acredito que esse número seja expressivo, o que provavelmente será um entrave para o projeto de certificação digital. É possível que quando percebam o problema, busquem soluções criativas em outros países de terceiro mundo para resolvê-lo. Talvez o Brasil se disponha a ajudar.

O Brasil também participou da Cúpula Mundial. O Governo Federal alega que conseguiu uma vitória ao liderar os países periféricos - incluindo Angola - e criar um Forum sobre a Governança da Internet. O objetivo desse Fórum é tirar a operação técnica da Internet das mãos do Governo dos Estados Unidos, dando maior poder de decisão aos integrantes desse Fórum, que além de Brasil e Angola também inclui um punhado de ditaduras que o governo Lula insiste em cultivar.

Na prática, a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação foi um fracasso. Não conseguiu produzir nenhum documento com medidas práticas sobre os assuntos abordados. A conclusão foi uma carta na qual os países participantes se comprometeram a continuar o debate, sabe-se lá quando.

A política interna de tecnologia da informação do governo federal é tão ingênua quanto a externa. O pilar dessa política interna é o computador popular. Normalmente o que é popular no Brasil é ruim, e o computador popular não será uma excessão. Parece que o nome oficial do projeto é PC Conectado e o preço que o governo estimava em R$ 400,00, na prática virou R$ 1.400,00.

De acordo com o IBGE, 63,3% da população brasileira vive com menos de R$ 680,00 por mês. Isso quer dizer que de popular esse computador não terá nada. A fórmula mágica proposta pelo governo para que a população consiga adquirir o computador popular é facilitar o endividamento. Linhas especiais de crédito, para pagamento em até 24 meses, serão abertos em bancos oficiais. Além disso, 13,3% da população brasileira é analfabeta. Mesmo que financiem um computador, não terão como utilizá-lo.

Outro objetivo do computador popular são as escolas públicas. O governo federal quer que os alunos tenham acesso à computadores e à Internet. Parece uma boa idéia, mas eu acho uma idéia mais interessante fornecer quadros-negros, giz e livros primeiro. Boa parte das escolas públicas não oferece infra-estrutura adequada. Em muitos casos, falta até mesmo energia elétrica. Os professores são mal pagos e mal treinados. Provavelmente esses computadores serão sub-utilizados e se tornarão rapidamente obsoletos.

O Brasil, assim como Angola, tem dificuldade de enxergar suas deficiências básicas. Países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento querem alcançar o nível de tecnologia da informação dos países desenvolvidos, mas sem aumentar o poder aquisitivo e o nível de escolaridade da população. Índia, México e Guatemala são outros exemplos. É mais uma das fórmulas mágicas que esses países sempre buscam para resolver seus problemas dentro do prazo de um mandato. A corrupção endêmica e a ignorância crônica nunca estão em pauta.

Atualizado em 27/12/2005, às 23:47: Confira o artigo "O Laptop de US$ 100 do Governo Brasileiro", onde o tema também é abordado por Gabriel Torres.


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