Navegando na Americanas.com descobri, por acidente, uma seção do site dedicada a vender músicas on-line, para download, em um sistema claramente inspirado na Apple. A idéia é interessante, mas como quase tudo no Brasil é mal copiado e mal feito.
O empreendedorismo brasileiro não consegue nem copiar direito a idéia dos outros, ao estilo dos Japoneses e Americanos, nem criar uma versão vagabunda e barata da mesma idéia, ao estilo dos Chineses. O resultado é que o site de venda de músicas on-line da Americanas.com é um ilustre desconhecido, graças em parte à confusão que a página principal do Americanas.com é.
Não bastasse ser difícil de achar o serviço, ele também é caro. As músicas custam R$ 1,99 cada. Para ter em MP3 o CD "Admirável Chip Novo", da Pitty, por exemplo, é necessário desembolsar R$ 21,89. O mesmo CD original é vendido por R$ 19,90 na Americanas.com. Lembrando que o CD inclui encarte com as letras das músicas, possui uma qualidade de som superior aos arquivos MP3 e é entregue em um dia útil, por que alguém compraria esse CD em arquivos MP3 para download? A regra funciona para praticamente qualquer CD. Quando há economia, ela é desprezível.
No iTunes, da Apple, as músicas custam US$ 0.99. Se você decidir levar um CD inteiro, normalmente há um desconto e cada música sai mais barato ainda. Cabe lembrar que você não pode simplesmente multiplicar os US$ 0.99 por R$ 2,18 para chegar à conclusão que a Apple é mais cara que o Americanas.com. O poder aquisitivo dos americanos é diferente do dos brasileiros e gastar US$ 0.99 para um americano é quase como gastar R$ 0,99 para um brasileiro.
Indiferente ao preço, resolvi testar o serviço e comprei uma música on-line. Depois de escolher a música, me autentiquei no site e, antes de prosseguir, o sistema pediu uma informação que não me fez sentido: CEP. Será que eles vão me enviar essa música gravada em um disquete pelo correio? Coloquei o meu CEP e fui informado que o frete era gratuito. Não sei se isso aconteceu porque o ítem é uma música para download ou devido à promoção na qual qualquer produto entregue em São Paulo, capital, é isento de frete. Finalizei a compra e fui informado de que receberia instruções para o download da minha música depois que a operadora de cartão de crédito aprovasse o débito de R$ 1,99. Cinco minutos depois recebi o primeiro e-mail da Americanas.com informando que eles haviam recebido o meu pedido. Como depois de trinta minutos eu ainda não havia recebido minha música, resolvi ir dormir.
Na manhã do dia seguinte a música ainda não havia chegado. Eram 07:23. O e-mail com as intruções para download só chegou às 08:00. Levou apenas oito horas para ter a música que eu comprei on-line. Pelo menos ninguém se deu ao trabalho de gravá-la em um disquete para entregar pelo correio.
O sistema de controle dos downloads parece sério. Só parece. Embora apresente um código de validação, trata-se de pura segurança por obscuridade. No final das contas o que você recebe é uma URL com o link direto para o arquivo. Não é necessário ser um gênio para brincar um pouco com essa URL e fazer download de outras músicas.
A segurança por obscuridade é sempre uma idéia ruim, normalmente empregada por quem acha que é especialista em segurança. Ela só cria a falsa sensação de estar seguro, o que é muito pior do que a certeza de não estar seguro. Quem tem um anti-vírus e acha que ele está atualizado, embora não esteja, tem mais chances de se contaminar do que quem tem a certeza de não ter software anti-vírus nenhum.
A Internet está cheia de exemplos de segurança por obscuridade. O Jornal O Globo online começou a empregar recentemente um mecanismo de controle do seu conteúdo que é pura segurança por obscuridade, dando a falsa sensação de estarem protegendo o conteúdo do jornal contra cópias não autorizadas. Ao ler uma matéria, caso você ilumine parte do texto e aperte CTRL+C, um script JavaScript intervém e informa que você não está autorizado a copiar trechos ou a totalidade da matéria sem autorização do jornal. Não leva nem cinco minutos para descobrir onde está o script (um arquivo .js em outro local do servidor) e, com ajuda de um plugin do Mozilla, selecionar o que não autorizar que esse script faça. Pronto, problema resolvido.
As soluções de controle de conteúdo com direitos autorais normalmente são segurança por obscuridade. É por isso que os mecanismos empregados para impedir cópias de CD's e DVD's são sempre quebrados rapidamente. A pirataria não é um problema novo, ela existe há muito tempo. Enquanto as editoras não conseguirem impedir que um livro seja inteiramente fotocopiado por um preço inferior ao de venda na loja, é improvável que uma solução apareça. Quando o conteúdo é digital, pior ainda, porque não há perda de qualidade na cópia em relação ao original. Bom, pelo menos não deveria haver, mas como eu já disse, quase tudo no Brasil é mal copiado e mal feito e os piratas não são exceção.
Voltando ao site da Americanas.com, encontrei uma outra pérola na mesma seção do site onde a loja de músicas para download se encontra. É uma "promoção" do Speedy, serviço de banda larga ADSL da Telefônica em São Paulo. De acordo com a promoção, a "auto-instalação" é grátis. Não pesquisei a fundo para entender o que eles querem dizer com "auto-instalação", mas entendi que é a instalação feita pelo próprio usuário, sem auxílio de técnico. Fico feliz em saber que a Telefônica não estará me cobrando caso eu decida instalar sozinho o meu serviço de banda larga. Isso mostra o quanto eles são uma empresa séria.
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