Continuando de onde parei na parte 8 desta série, o ano de 2001 foi o primeiro em que comecei a ganhar dinheiro de verdade com o Clube do Hardware. Foram cinco anos usando o Clube do Hardware basicamente para divulgar os meus livros e cursos, embora eu tenha ganho algum dinheiro quando o site era um serviço de consultoria pago para membros, nos anos de 1998 e 1999. Foi um conceito à frente de seu tempo e por isto não deu tanto certo. Hoje em dia, uma comunidade com área paga para membros com benefícios exclusivos é relativamente comum.
Fica uma reflexão: acho curioso com algumas pessoas querem montar um negócio e ter lucro já no primeiro dia, sem querer passar por uma curva de aprendizado e amadurecimento. É um pensamento imediatista, possivelmente turbinado pelo mundo ansioso de hoje, turbinado pelas redes sociais, que vendem uma imagem que as pessoas têm sucesso da noite para o dia sem qualquer esforço.
Como as receitas oriundas do Clube do Hardware passaram a ser maiores do que eu tinha trabalhando no meu emprego no Instituto de Tecnologia ORT, eu pedi demissão, pois assim teria mais tempo para me dedicar exclusivamente ao Clube do Hardware, meus livros e passar a focar em workshops de curta duração (dois ou quatro dias) em vez de cursos de formação, mais longos.
Eu cheguei a ter um escritório em um prédio comercial por um ano, mas, diferentemente do que eu achava, não recebia potenciais clientes (anunciantes). Desta forma, vi que não havia necessidade de um ponto comercial e poderia economizar dinheiro fechando o escritório e transformando o segundo quarto do meu apartamento (aquele que eu comprei na planta) no espaço físico necessário para escrever meus artigos e coletar dados para as análises de hardware.
Figura 1: eu em meu quarto transformado em escritório e "sede do Clube do Hardware", em novembro de 2002 (28 anos de idade)
Em 2003 eu vendi o meu apartamento e me mudei para outro maior, por motivos de espaço (me juntei com a minha namorada e ela era uma centopeia, com 100 pares de sapato). As fotos abaixo foram tiradas já em outro apartamento, para onde me mudei em 2003 (e fiquei até 2007, ano em que me mudei para os EUA).
Figura 2: bancada de coleta de dados em 2003
Figura 3: eu no meu escritório caseiro em 2006 (32 anos de idade)
Os acontecimentos que surgiram e me fizeram a começar a ganhar dinheiro com o Clube do Hardware a partir de 2001 foram os seguintes:
- O surgimento das primeiras agências norte-americanas de intermediação de publicidade de forma automatizada, similar ao que temos hoje em dia com o Google Adsense (que só foi surgir alguns anos depois, em 2003). Lembro que tais agências na época nos pagavam através de cheque emitido nos EUA, que levava 45 dias para compensar! Mas o primeiro cheque – em dólar – a gente nunca esquece! (Se não me falha a memória, o primeiro cheque foi de US$ 650.)
- Eu tinha uma parceria com o site Submarino, onde ganhava comissão de 8% sobre vendas geradas a partir do Clube do Hardware. Assim, eu redirecionava as vendas dos meus livros para o Submarino e ganhava comissão, além dos royalties pagos pela a editora. Eu cheguei a ter uma experiência com a venda dos meus livros por conta própria, mas dava muito trabalho e os custos com funcionários acabava não compensando. Vou contar esta história melhor na próxima parte desta série, quando falarei sobre a batalha judicial com a editora que publicava meus livros.
- Projeto para a fazer workshops de curta duração em várias cidades do Brasil, através de parceiros locais. Fiz workshops em Vitória da Conquista/BA, Belém/PA, Salvador/BA, Aracajú/SE, Macapá/AP etc.
- Início do interesse de fabricantes de hardware localizados fora do Brasil para o envio de amostras de hardware e consequente interesse em anunciar em nosso site.
- Um ex-funcionário da ABIT (antiga fábrica de placas-mãe) viu potencial na intermediação entre sites de análise de produtos e fabricantes, e abriu uma agência de representação em Taiwan, chamada ITMediaGate. A ideia dele era representar o maior site sobre hardware de cada país ou região. Assim, firmamos um contrato e essa agência passou a representar o Clube do Hardware para os fabricantes localizados em Taiwan.
A parceria com a ITMediaGate foi outro ponto de virada na história Clube do Hardware, tanto no campo profissional quanto no campo pessoal. Este escritório trabalhava ativamente para apresentar a carteira de sites que eles representavam a todos os principais fabricantes de componentes de hardware. Com isto, o nosso site passou a ser bastante conhecido entre os fabricantes, além de eles rapidamente conseguirem fechar vários contratos publicitários.
Em 2002, fiz a minha primeira viagem internacional em nome do Clube do Hardware, para visitar a Computex, que é a maior feira de informática da Ásia e uma das maiores do mundo (fui, no total, sete vezes a Taiwan ao longo dos anos). Nesta viagem, por intermédio da ITMediaGate e sua rede de contatos, pude conhecer pessoalmente os funcionários dos principais fabricantes de hardware, o que certamente fez toda a diferença para a história do Clube do Hardware.
O ponto mais importante dessa viagem foi ter conhecido o Larry Barber, que é uma lenda viva entre os donos de sites sobre hardware mais antigos dos EUA. Ele foi presidente da Tyan e se desligou desta empresa para se dedicar ao lado comercial do Tom’s Hardware por volta de 1996 ou 1997, fazendo que este fosse um dos primeiros (senão o primeiro) site sobre hardware a ganhar dinheiro com anúncios. Larry saiu do Tom’s Hardware e convenceu um de seus colaboradores a montar um novo site, chamado Sharky Extreme. Ele virou uma lenda no meio, na época, por ter criado e vendido este site em um espaço de tempo de apenas nove meses, para a Internet.com, um portal de tecnologia que existia na época, no auge da bolha das empresas ponto com. Ou seja, apesar de o valor nunca ter sido divulgado, o negócio foi de US$ 1 milhão para cima. Fechado o negócio, ele foi cuidar da parte comercial do Anandtech. Alex Ross, o Sharky, usou o dinheiro para montar uma oficina de Porsche.
Quando viajei pela primeira vez aos Estados Unidos, em 2003, fui visitá-lo, inicialmente com a ideia de publicar meus livros em inglês. Porém, ele me explicou (e depois eu confirmei pessoalmente) que apesar de aparentemente haver muitas editoras nos EUA, a maioria pertence a uns poucos conglomerados, que já tinham nomes fortes na área de hardware, como o Scott Mueller e o Winn L. Rosch e, portanto, a entrada de um novo nome era muito difícil. Mas que ele tinha interesse em montar um novo site sobre hardware, nos EUA e em inglês, com a pegada do Clube do Hardware, isto é, focado mais em tutoriais e com linguagem mais acessível. Por sorte, eu já tinha o Hardware Secrets, que era a versão do Clube do Hardware em inglês, e partimos daí.
Nos anos seguintes, o Larry criou a empresa que eventualmente iria patrocinar a minha mudança para os EUA. Enquanto eu publicava artigos, ele já estava trabalhando vendendo anúncios no site, pois a empresa precisava primeiro estar operando e dando lucro suficiente para bancar a minha contratação oficial e mudança (a saúde financeira é analisada detalhadamente pelo departamento de imigração quando uma empresa peticiona um visto de trabalho). Entre essa nossa reunião e minha efetiva mudança para os EUA passaram-se quatro anos, para você ver como existe todo um processo e não há espaço para imediatismo em planos de longo prazo. Eu acabei morando nos EUA por seis anos, e conto mais detalhes na parte 12 desta série.
Larry foi, por sua experiência e por ser mais velho do que eu, um mentor para mim nos dez anos em que convivemos.
Eu já postei algumas fotos desta minha viagem a Taiwan de 2002, bem como contei em detalhes sobre o Larry, o Hardware Secrets e o período em que vivi nos EUA no podcast Rádio CdH – Programa 041. Recomendo que você dê uma olhada nestas duas páginas.
Na época em que a maioria das pessoas ainda tinha Internet discada e não sabia onde conseguir drivers para equipamentos de hardware, fiz um teste criando um CD com uma coletânea de drivers de equipamentos. Para testar as águas, gravei em uma empresa que gravava CD-R em quantidade, com impressão colorida sobre a mídia. Como foi um grande sucesso, resolvi gravar esse CD profissionalmente, em fábrica (Videolar), e preparei várias outras coletâneas de drivers, manuais e BIOS de placas-mãe, e de freeware e shareware voltados a técnicos em manutenção. Apesar de trabalhar em casa, tive de abrir, em 2003, um escritório comercial para poder efetuar essas vendas, com uma equipe própria. Os CDs do Clube do Hardware fizeram tanto sucesso que chegou a um ponto em que os camelôs em frente ao nosso escritório vendiam versões pirata dos nossos CDs! Acabemos adicionando outros produtos à nossa loja virtual, em particular ferramentas que julgamos ser interessantes aos técnicos em manutenção. Encerramos este escritório em 2007, quando verificamos que já não havia mais demanda para esse tipo de produto.
Figura 4: lista de todos os CDs do Clube do Hardware (2007)
Figura 5: os dois primeiros volumes do CD de drivers do Clube do Hardware
Não podemos nos esquecer que entre os anos de 2001 e 2003 escrevi e lancei os seguintes livros, fazendo com que eu tivesse um total de 18 livros publicados em um período de sete anos (1996 a 2001), a maioria best-seller:
- 15º: Redes de Computadores Curso Completo (2001)
- 16º: Hardware Curso Completo - 4ª Edição (2001)
- 17º: Fundamentos de Eletrônica (2002)
- 18º: Montagem de Micros Curso Básico & Rápido - 4ª Edição (2002)
Figura 6: resenha e lista de mais vendidos do O Estado de São Paulo (23/04/2001)
Figura 7: resenha e lista de mais vendidos do O Estado de São Paulo (24/09/2001)
Figura 8: Hardware Curso Completo em 1º lugar em vendas, O Estado de São Paulo (12/11/2001)
Ainda no período retratado, fui homenageado duas vezes (2001 e 2003) pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) “pelos inestimáveis serviços prestados à informática brasileira”.
Figura 9: uma das moções de aplausos e congratulações que recebi da ALERJ
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