A parte mais difícil da vida de um empresário é lidar com situações adversas cuja solução não depende de si. Ser empresário no Brasil é muito mais difícil do que em países desenvolvidos pelas questões que todos nós já estamos carecas de conhecer, tais como crises, burocracia, regras que mudam no meio do jogo, um dos sistemas tributários mais complicados do mundo, a cultura brasileira do “jeitinho”, a dificuldade de muitos brasileiros entenderem o real significado de “propriedade privada”, os brasileiros que quererem tudo de graça, etc., etc., etc. Costumo dizer que para ser um empresário de sucesso no Brasil, um empreendedor precisa ser dez vezes melhor que um empreendedor em um país desenvolvido.
Crises e imprevistos fazem parte do jogo. Nesta atual, de 2014/2015, nossos anunciantes (com a exceção de apenas um) simplesmente sumiram, o que é compreensível. Com isso, temos de preencher nosso espaço publicitário com redes de anúncios, que pagam bem menos e, para compensar, temos de ter mais propagandas do que gostaríamos de ter em nosso site para podermos gerar um faturamento que pelo menos cubra as nossas despesas.
O “efeito Facebook”, que já discutimos em dois editoriais (ver aqui e aqui), causou uma abrupta queda em nosso tráfego e, consequentemente, faturamento.
E temos ainda o efeito do uso de programas do tipo “adblock”, que impedem que nossas propagandas sejam exibidas. Estimamos que pelo menos 30% de nossos usuários bloqueiam as propagandas do nosso site, ou seja, nosso faturamento, que atualmente é muito menor do que era há três anos, é pelo menos 30% menor do que potencialmente poderia ser por “culpa” dos nossos próprios usuários. A situação tende a piorar. O pessoal do site Guru3D, por exemplo, postou um editorial recentemente informando que metade de seus usuários usam bloqueadores de anúncios.
Nota: alguns usuários se justificam dizendo que temos muitas propagandas “irritantes”. Não é nossa intenção ter anúncios deste tipo. Por exempo, recentemente tivemos um problema de banners do tipo “pop-up” que apareciam em dispositivos móveis, mas era um bug de configuração em uma das redes que usamos que foi resolvido graças à reclamação dos usuários. Outro exemplo são de banners “piscantes” do tipo “você ganhou, clique aqui”, mas não é o tipo de propaganda que queremos aqui. É só você reclamar conosco que removemos. O problema, como explicado acima, é que estamos tendo de ter mais anúncios que o normal para compensar a perda de faturamento ocasionada pela crise e continuarmos operando no azul. Mas, como discutimos neste tópico, tentamos ser transparentes a respeito das novas propagandas e sempre que possível removemos propagandas.
Por conta desses três fatores, o faturamento do Clube do Hardware é hoje apenas 25% do que costumava ser há três anos, sendo que nossas despesas aumentaram, pois temos de aumentar os honorários dos nossos colaboradores de tempos em tempos para compensar a inflação.
Atualmente vamos sobrevivendo, mas sinceramente não sabemos até quando. Se formos pensar apenas no lado “business” do site, teríamos encerrado nossas atividades em 2014. E se a proporção dos usuários que usam bloqueadores de anúncios continuar aumentando a ponto de não conseguirmos mais pagar as nossas contas, não veremos alternativas a não ser começar a parar de publicar artigos e, eventualmente, fecharmos as portas.
Vivemos um paradoxo, que é exarcebado pela cultura brasileira de querer tudo de graça: os usuários gostam do nosso site, mas ao mesmo tempo se acham no “direito” de bloquearem as nossas propagandas e cortarem o nosso faturamento – este que justamente permite publicarmos artigos e mantermos nosso fórum de discussões no ar. Se todo mundo usar bloqueadores de anúncios, todos os sites de conteúdo com acesso grátis, como o nosso, sairão do ar.
O modelo de negócios que utilizamos é o mesmo da maioria dos sites de conteúdo do mundo: nossos usuários têm acesso total ao nosso conteúdo sem a necessidade de qualquer tipo de cadastro ou pagamento, mas precisamos ter propagandas para bancar nossos custos.
Em 2014, criamos um sistema “anti-adblock”, que fazia com que fosse mostrada uma mensagem explicando como o “adblock” era nocivo ao nosso negócio, e impedia o acesso do usuário ao nosso site e fórum. Alguns usuários ficaram furiosos conosco!
Veja bem: o usuário está impedindo propositadamente a gente de ganhar dinheiro, que será usado para pagar os custos do site (que ele gosta, do contrário ele não estaria acessando, não é mesmo?) e fica “p” da vida porque estamos falando que ele não pode fazer isso? O que ele acharia se fossemos até o trabalho dele e hackeássemos o computador que gera a folha de pagamentos para que ele não fosse mais pago, mas ele continuasse trabalhando normalmente? É exatamente a mesma coisa.
A quantidade de mensagens negativas que recebemos foi enorme, em sua grande maioria escritas em tom extremamente agressivo. Algumas das pérolas, só para vocês terem uma amostra do que temos de aturar em nosso dia a dia (e depois tem gente que acha que ter um negócio online é fácil):
- “Vocês estão tirando o meu direito adquirido de acessar o site de vocês sem propagandas”. É mais ou menos como se o usuário frequentasse um clube sem ser sócio por que descobriu que não havia verificação na portaria; aí instalaram uma roleta e o usuário reclama que o clube “tirou o direito adquirido” dele de acessar o clube de graça;
- “Vocês são ricos, uma meia dúzia de usuários usando bloqueadores não farão diferença”. Primeiro, não são só uma meia dúzia (30% de cinco milhões são 1,5 milhão de pessoas). Segundo, mostra como algumas pessoas acham “pecado” ganhar dinheiro honestamente (e, o agravante neste caso, que é para benefício do próprio usuário). Terceiro, comentários desse tipo mostra bem como determinados usuários têm dificuldade de entender o real significado de “iniciativa privada”;
- “Vocês ganham dinheiro de outras formas”. Por favor, gostaríamos de saber quais formas são essas (a única que eu imagino é através dos meus livros, mas, com a crise, as vendas estão mortas – mas isto é papo para outra oportunidade);
- “O alto índice de usuários usando bloqueadores no site indica que o conteúdo de vocês é irrelevante”. Então por que você está acessando o nosso site ou perdendo o seu tempo escrevendo uma bobagem dessas?
- “Dessa forma vocês vão perder todos os seus usuários”. Não, perderíamos apenas os usuários que utilizam “adblock”, que são usuários que geram despesas para a gente (por consumir largura de banda e recursos dos servidores), mas não geram nenhuma receita. Do ponto de vista prático, perder tais usuários seria benéfico, pois diminuiria o uso dos nossos servidores. Do ponto de vista comercial, como as visualizações de página geradas pelos usuários que utilizam “adblock” não carregam nenhum anúncio, tais visualizações não são contabilizadas e, portanto, já não são utilizadas nas estatísticas que divulgamos aos nossos anunciantes.
A solução que demos foi o projeto “acesso VIP”, onde o usuário, através de um pagamento, pode acessar o nosso site e fórum sem propagandas e ter alguns benefícios exclusivos. Tivemos a adesão de poucos usuários. Inclusive, deixe sua opinião nos comentários deste editorial sobre o motivo de termos tido poucas adesões.
Uma solução mais radical poderia ser simplesmente removermos todas as propagandas, mas tornar o acesso ao nosso site e fórum pago. Não acreditamos que teríamos sucesso, pois, como já mencionado, brasileiro em geral só quer as coisas se for de graça (uma pessoa pagaria e daria a senha para todos os seus amigos, além de colocá-la na Internet).
Como você pode nos ajudar a continuarmos no ar:
- Desabilite o “adblock” para o nosso site.
- Considere tornar-se um membro VIP.
- Acesse a página principal do nosso site diariamente ou então use um leitor RSS para verificar se há algum conteúdo novo publicado.
Se mesmo depois de toda essa explicação você quiser continuar usando bloqueadores de anúncio em nosso site, tudo bem. Só não venha depois reclamar ou postar comentários em redes sociais dizendo como ficou “triste” quando tivermos que tirar o site do ar.
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