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Diretores da Cisco Brasil São Presos Por Evasão Fiscal


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Diretores da Cisco Brasil São Presos Por Evasão Fiscal

Sem sombra de dúvida a notícia mais quente desta semana no Brasil foi a prisão do presidente e dos diretores da Cisco no Brasil, o interrogatório de funcionários, além do fechamento dos escritórios da Cisco no Rio de Janeiro e em São Paulo por agentes da Polícia Federal e da Receita Federal.

O esquema da Cisco não era novidade para ninguém, era só questão de tempo para a bomba estourar – além do esquema clássico do uso de “laranjas”, eles informavam que o grosso do custo dos equipamentos estava no software embutido (firmware), que tem uma alíquota de imposto de importação menor.

Eu quero aproveitar a ocasião para minha opinião pessoal sobre o assunto.

O problema do Brasil, como todos nós sabemos, é o chamado “Custo Brasil”. O Brasil é um dos países com a maior carga tributária do mundo, só sendo superado pela Suécia. Compare, porém, o retorno social que os suecos têm com o retorno social que nós (não) temos.

Entre outras coisas, o custo de se importar produtos, especialmente equipamentos eletrônicos, fica na faixa dos 100%. Este percentual inclui imposto de importação, ICMS (que incrivelmente é calculado em cascata em cima dos demais custos, incluindo outros impostos – você já ouviu falar em algum país que você paga imposto sobre imposto?), frete, seguro, armazenagem, despesas com despachante aduaneiro, etc.

Portanto se um produto custa US$ 100 nos EUA ele vai custar pelo menos US$ 200 no Brasil, se importado através dos canais legais. Nós dizemos “pelo menos” porque estamos falando apenas de custo e obviamente o importador, o distribuidor e o lojista vão querer ter lucro.

Além disso temos uma outra coisa que a maioria das pessoas não se toca. Os brasileiros ganham muito menos dinheiro do que as pessoas que moram nos EUA. O salário mínimo no Brasil é de R$ 380 (US$ 190) por mês, o que dá US$ 1,08 por hora, se fizermos as contas usando uma semana de 40 horas (lembrando que a lei brasileira permite jornadas de 44 horas semanais). Nos EUA o salário mínimo federal é de US$ 5,85 por hora (US$ 1.029,60 por mês, usando o mesmo critério acima), com a maioria dos estados tendo um salário mínimo bem maior (o salário mínimo na Califórnia é de US$ 7,50 por hora ou US$ 1.320,00 por mês).

Logo além das coisas no Brasil custarem pelo menos o dobro, os brasileiros têm um menor poder aquisitivo, significando que algo que custe US$ 50 nos EUA é como se custasse US$ 100 para um brasileiro, já que os brasileiros têm menos dinheiro para gastarem.

Desta forma, se você colocar o poder aquisitivo na equação, as coisas no Brasil custam pelo menos quatro vezes mais do que nos EUA.

A grande loucura é tentar entendero porque da alta carga tributária no Brasil. A idéia por trás do alto imposto de importação é proteger a indústria nacional. O governo teme que baixando o custo de importação as empresas brasileiras irão falir. Então em vez de mudar as coisas no Brasil para que as empresas brasileiras se tornem mais competitivas, a solução usada é colocar um alto imposto de importação, criando a falsa sensação de que as empresas brasileiras podem sobreviver. Na realidade elas não podem, por conta de vários fatores tais como burocracia, crédito limitado e caro, leis trabalhistas arcaicas e um alto controle do mercado por parte do governo, idéias que vêm da época em que os militares estavam no governo (1964-1984). Apenas para lembrar aos mais novos, as coisas eram ainda piores no passado: até 1993 nós não podíamos importar legalmente qualquer tipo de equipamento de informática.

O governo brasileiro também diz que os impostos altos por causa das altas perdas com o contrabando. Mas é óbvio que o contrabando vai ser alto no Brasil! Quem é que pode pagar 100% de custo de importação? É só uma questão de matemática elementar: um imposto menor aplicado sobre uma base maior gera maior receita. Se o custo de importação fosse baixado para algo como 20% eu acredito que todo mundo iria importar legalmente, o problema com o contrabando é solucionado e o governo arrecadaria mais, pois mais gente iria fazer importação legal em vez de contrabando. Qualquer um pode ver isso menos o governo.

Mas a triste verdade é que este não é o verdadeiro motivo pelo qual os impostos são altos. As verdadeiras razões são (1) o governo brasileiro não quer abrir mão dos impostos que ele já está arrecandando e não quer se arriscar em uma mudança radical de paradigma e (2) há muitos motivos ocultos no ar: há pessoas que não querem que as coisas mudem, para que eles continuem lucrando com a situação atual de uma maneira ou de outra – como subornos.

A grande questão – e que aparentemente ninguém está se perguntando no Brasil e, se estiver, ninguém está fazendo nada a respeito – é simples: para onde vai todo o dinheiro arrecadado? Eu posso dizer com certeza que não é para educação, saúde, infraestrutura ou para criar maneiras de melhorar o potencial do Brasil no mercado mundial. Ah sim, o atual governo gosta de ajudar empresas brasileiras a exportar soja, aço e outras matérias-primas. Mas quando é que eles vão aprender que o dinheiro de verdade é feito com produtos manufaturados e não com matéria prima? Será que os brasileiros realmente querem que a gente continue sendo conhecido no mercado mundial como meros fornecedores de matéria-prima, perpetuando a idéia de que no Brasil só tem florestas e que temos macacos e cobras andando nas ruas? Eu acho que não.

Nos últimos anos muito falou-se sobre os chamados países BRIC– Brasil, Rússia, Índia e China –, os países com maior potencial de crescimento. Mas com este cenário fica difícl do Brasil entrar na competição internacional.

É sempre bom lembrar, especialmente para a geração mais nova, que democracia é algo que existe no Brasil somente há 22 anos. Antes disso o país ficava alternando entre ditaduras e democracias de curto prazo. O país e principalmente os brasileiros ainda têm muito o que aprender, como livre mercado, o voto como arma de mudança, nos unirmos para protestarmos de uma maneira eficiente (infelizmente a maioria dos brasileiros fica “indignada”, reclama com os amigos, mas não faz absolutamente nada para realmente mudar as coisas) e, mais importante, pegar o telefone ou mandar um e-mail para o seu senador ou deputado federal. Infelizmente no Brasil ninguém se lembra em que votou e que os políticos são nossos funcionários – nós é quem os contratamos, através do nosso voto!


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Comentários de usuários

Respostas recomendadas

Somos alvo da desgraça que a ganância humana gera.

Meu professor de história usou essa frase para se referir a como somos tratados no Brasil em uma das aulas que tive com ele.

Este professor mostrou do mesmo jeito que essa matéria como o nosso dinheiro é ridicularizado no Brasil.

Quando olho preços de produtos americanos simplesmente não acredito que se comprasse lá sairia -150% do valor! Um iPod nano por exemplo custa U$$ 200, enquanto aqui no Brasil o mesmo modelo sai pela faixa de 700 reais.

Isso me deixa absurdamente fora do sério.

Mas como diz meu professor:

Não podemos querer mudar os políticos, senão fizermos as mudanças antes, em nós mesmos.

Se o povo paga, porque eles teriam de mudar?

:angry: Vamos nos rebelar povo! Imposto até pra mãe não dá!

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O mérito do artigo não é a discussão sobre o alto preço que pagamos pelos

produtos, mas sobre a verdadeira razão de se manterem os impostos - e aí

incluo todos, não só os de importação - nas alturas: as redes de corrupção

só sobrevivem num ambiente de alta tributação, pois aí sim vale correr o

risco de sonegar e corromper os agentes do Estado para auferir mais lucros.

Analisando mais profundamente, vê-se como essa rede é onerosa para nós,

contribuintes:

- O imposto alto incentiva a sonegação e o suborno dos agentes do Estado;

- Os altos índices de sonegação trazem a necesidade de mais gastos com

fiscalização e controle (mais burocracia), o que, além de aumentar o custo

do Estado, aumenta o do empresário (que precisa contratar especialistas para

cuidar da papelada burocática), atrasa os processos e aumenta as

oportunidades para a prática da corrupção (o velho "jeitinho" para se

adiantar e liberar as coisas);

- Os altos índices de corrupção alimentam a ideia de que os agentes e

fiscais são facilmente subornáveis porque ganham pouco. Surge uma pressão

para se aumentarem os salários ou aumentar a vigilância sobre os agentes.

Mais gastos;

- Com a ineficiência do sistema de repressão e a consequente impunidade dos

integrantes da rede, criam-se as condições para que a própria rede cresça

(ah, se todos fazem e se dão bem...) e potencialize o problema, gerando uma

bola de neve.

Ora, quem paga essa conta é você! E para cortar o mau pela raiz, é óbvio que

a forma mais sensata, fácil e barata seria diminuir a carga tributária! O

risco de um desequilíbrio na arrecadação poderia ser minimizado por ações

conjuntas: Diminuição progressiva, programada e difundida da carga aliado a

um aumento temporário no rigor da fiscalização e repressão e, também, a uma

campanha publicitária do Estado informando sobre o plano e incentivando a

boa conduta. Essa campanha prosseguiria até que, com a carga mais baixa, se

solidificasse a percepção de que dá menos dor de cabeça agir corretamente do

que sonegar e subornar, mantendo-se a arrecadação no mesmo patamar.

Agora, quem você acha que vai promover essa mudança? Você já se perguntou

por que não aparecem propostas para viabilizar uma diminuição na carga

tributária? Não seria a rede se articulando para garantir a sobrevivência?

Se for, então essa rede já se ramificou entre aqueles que decidem...

É, meu caro, a solução está com você mesmo! Não adianta reclamar: levante-se

e haja como cidadão. Se organize. Proteste. Rebele-se. Mude. Participe da

História. Deixe sua contribuição. Não espere para sentir o vazio dos

moribundos ao descobrirem, antes do último suspiro, que passaram a vida em

branco...

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