A mídia internacional e os fabricantes de hardware há muito tempo falam sobre os mercados emergentes e seu potencial, literalmente bilhões de pessoas que não têm nem mesmo acesso a um computador. Com as vendas de computadores de mesa estagnadas em nações desenvolvidas, países emergentes são certamente a bola da vez: eles poderiam vender mais computadores para esses países do que já venderam no mundo desenvolvido. Eles até já inventaram um termo para os países com mais potencial: BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O problema é que, salvo raras exceções, a maioria das empresas não tem ideia de como chegar neste mercado em hibernação. Como brasileiro, eu tenho uma perspectiva diferente nesta questão, e eu gostaria de compartilhar algumas ideias de como as empresas poderiam ajudar os países em desenvolvimento.
O problema, em minha opinião, é que a maioria das pessoas está vendo este problema de um ângulo errado. Um bom exemplo é a iniciativa OLPC (One Laptop per Child ou Um Laptop por Criança). Esta iniciativa, co-fundada pelo famoso Nicholas Negroponte, meteu os pés pelas mãos simplesmente porque desenvolveram um modelo de negócio onde seus clientes são os governos. Em resumo, eles desenvolveriam e montariam laptops para escolas em países em desenvolvimento e venderiam esses computadores para os governos, que por sua vez instalariam os portáteis nas escolas. Acredite no que estou dizendo, isto simplesmente não funciona por causa da ineficiência dos governos. Com raras exceções, os governos são lentos, burocráticos e não têm a necessária vontade/energia para abraçar uma causa como esta. A maioria dos governantes em países em desenvolvimento é altamente corrupta e só entra na carreira política para enriquecimento próprio através de vários esquemas (incluindo receber comissões de fabricantes). O OLPC só funcionaria se os políticos pudessem ver uma maneira de colocar algum no bolso, mas com a mídia em cima isto dificilmente seria o caso.
Mas, se através governo não é a solução, qual ela seria então? Em minha opinião o desenvolvimento do mercado de computadores em países em desenvolvimento poderia ser altamente acelerado se grandes empresas privadas abraçassem a causa. E ninguém melhor do que a Microsoft para esta tarefa.
Bill Gates doou bilhões de dólares do próprio bolso para caridade. Mas eu não estou falando aqui de caridade. Estou falando em ajudar os países em desenvolvimento, aumentando seus lucros e combatendo a pirataria, tudo ao mesmo tempo.
No mundo em desenvolvimento, a maioria das pessoas monta seus próprios computadores em vez de comprá-los de fabricantes conhecidos. Isto acontece por diferentes razões, mas todas têm a mesma explicação: é mais barato.
Ok, mas o que eles instalam nesses computadores? Nem precisa levantar seu tapa-olho para responder. Mas porquê? Pense um pouco. Nos EUA se você quiser instalar a versão mais completa do Windows 7 e a versão mais completa do Microsoft Office, você gastará US$ 720 (talvez um pouco menos se você encontrar uma loja que esteja dando descontos) – mais do que o custo de um computador básico nos EUA. Ok, este exemplo é injusto, pois as versões básicas desses programas atenderiam às suas necessidades. Mas neste caso você ainda gastaria US$ 300 (talvez um pouco menos se você encontrar uma loja que esteja dando descontos; a Microsoft oferece para fabricantes de computadores uma versão do sistema operacional chamada “Starter” que é mais barata, mas o usuário final não pode comprar esta versão diretamente da Microsoft). Eu verifiquei que pelo menos aqui no Brasil os preços praticados para o conjunto Windows 7 Home + Microsoft Office Home e Student são absolutamente os mesmos do mercado norte-americano, depois de convertidos para real.
Isto é injusto, não acha? Se já é caro para os gringos imagina para nós brasileiros! Só para lhe dar alguns números, o salário mínimo federal nos EUA é de US$ 7,50 por hora (US$ 1.485 ou R$ 2.673 por mês para uma jornada semanal de 44 horas). No Brasil o salário mínimo federal é de R$ 510 (ou cerca de US$ 182,15) por mês, ou US$ 0,92 por hora, se uma pessoa trabalha 44 horas semanais. Claro que quem tem computador por aqui ganha mais do que um salário mínimo; o mesmo ocorre nos EUA.
Qual é a solução? Baixar o preço do software? Mesmo baixando o preço do Windows 7 e do Microsoft Office ainda assim seria muito caro.
Eu tenho uma ideia melhor. Porque não oferecer o Windows XP e versões anteriores do Microsoft Office juntos por um preço imbatível que ajudaria países em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, se livraria da pirataria? Eu acho que a Microsoft já ganhou muito dinheiro com esses produtos (você consegue me responder porque com o lançamento do Windows 7 o Windows XP Professional ainda custa US$ 300 nos EUA?). Porque não vender esses produtos por um preço simbólico? Eles começariam a ganhar dinheiro de pessoas que de outra forma não comprariam seus produtos com um software considerado “antigo”, aumentado assim a vida útil de seus produtos. No que diz respeito a suporte, a Microsoft poderia simplesmente lançar essas versões sem nenhum tipo de suporte – nós estamos falando de pessoas que instalam cópias piratas e estão acostumadas a não receber nenhum tipo de suporte de qualquer forma.
E que tal adotar o Linux em países em desenvolvimento? No papel parece uma maravilha, mas isto não funciona – e já estou aqui prevendo mensagens de ódio da comunidade Linux. Mas a verdade é a seguinte, as pessoas querem rodar o mesmo software que roda na escola ou no curso onde aprenderam a usar um computador (e empresas como a Microsoft e Adobe trabalham muito bem para que o mercado de educação adote apenas seus produtos). Eles querem exatamente os mesmos programas, e não programas similares que fazem a mesma coisa. Para que perder tempo instalando e aprendendo Linux e StarOffice se elas podem simplesmente instalar o "piratão"? Infelizmente as pessoas em países em desenvolvimento não vêem a pirataria como um crime, especialmente quando não há em quem se espelhar.
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