Entenda o real significado de custo-benefício ao montar ou adquirir um PC

[RonaldoDuarte11]

Olá, prezados.

 

Tendo em vista o uso indiscriminado do termo "custo-benefício" por parte de muitas pessoas quando se trata de montar um desktop ou adquirir um notebook, decidi criar este tópico a fim de esclarecer o real significado deste termo, que, por sinal, foi muito distorcido com a ajuda de sites, blogs e canais do YouTube cujo objetivo não é ajudar o usuário a escolher o melhor conjunto para as suas necessidades, mas sim vender aquele conjunto de quinquilharias encalhadas no depósito da marca parceira deles.

 

Obs.: Este tópico está sendo feito de forma mais voltada aos desktops, mas algumas dicas também podem se aplicar a notebooks.

 

Primeiro vamos ao conceito de custo-benefício. O nome já é bem sugestivo. Custo-benefício supõe algo que proporcione o maior benefício pelo menor custo, certo? No entanto, o que mais vemos no meio digital é a indicação de modelos com o preço mais baixo possível, valendo-se de um termo "chique" que chama a atenção do consumidor mais desavisado. Em 99% dos casos, os modelos "custo-benefício" indicados são simplesmente os que possuem o preço mais baixo do mercado, mas não necessariamente os que atenderão bem às demandas do usuário.

 

Vamos a um exemplo básico. João tem 28 anos e faz um curso de técnico em informática. Ele, com um orçamento de R$ 5,5 mil, precisa de um PC (desktop ou notebook, tanto faz) para estudar e, também, para rodar os programas usados na parte de programação do curso. Tendo isto em vista, o rapaz vê um canal X que orienta a montagem de computadores "custo-benefício" para estudos e o apresentador do canal lhe aconselha a aquisição de um produto como este:

 

https://www.magazineluiza.com.br/computador-pc-positivo-unique-k2390-intel-celeron-windows-8-2gb-320gb-led-15-6-grava-cd-dvd/p/082247900/in/dkcp/

 

Vamos a algumas observações, com base nas configurações deste PC.

 

Marca. A fabricante merece uma posição de destaque aqui, pois Positivo é uma marca que vive deixando os usuários na mão, com problemas que vão desde travamentos até trincas em componentes físicos. Além do mais, os aparelhos Positivo costumam contar com placas mãe de dispositivos "inferiores". Desktops usam placas mãe de notebooks, notebooks usam placas mãe de tablets e assim por diante. Mesmo assim, João ainda poderá se sentir tentado ao ler, em meio a milhares de comentários negativos, um ou dois internautas comentando que o seu Positivo está firme e forte até hoje. Ao invés de se pautar nos comentários da maioria, o rapaz poderá trocar o certo pelo duvidoso, arriscando a sorte (e seu suado dinheiro) comprando um produto que lhe dará fortes dores de cabeça a longo prazo, baseado unicamente em relatos de pessoas que, ou tiveram muita sorte com seus computadores, ou mesmo podem ser perfis fake criados por "trolls" ou mesmo por pessoas querendo fazer um jabá para a Positivo, a fim de tentar passar uma boa imagem de seus produtos.

 

E o pessoal do "custo-benefício" fará vista grossa sobre tais problemas, já que, quando se trata de deturpar o conceito de "custo-benefício", a ganância de internautas sedentos pelo patrocínio das marcas desconhece limites.

 

memória RAM. O modelo em questão conta com apenas 2GB de RAM, o que já está bastante obsoleto em pleno ano de 2022. Mesmo num uso para estudos, esta quantidade de RAM é baixa, pois, caso seja necessário abrir mais abas em um navegador web e/ou mais arquivos do pacote Office simultaneamente, a memória pode não ser suficiente. Ainda mais se o browser em questão for o Google Chrome, que é um verdadeiro redemoinho de RAM.

 

Outro detalhe que observamos é que a memória suportada neste PC é do tipo DDR3, sendo que, atualmente, vemos em PCs novos memórias do tipo DDR4 e, em alguns modelos mais privilegiados, até mesmo DDR5. Quanto maior o clock e o DDR das memórias, mais rápidas elas serão, agilizando ainda mais o acesso aos arquivos, juntamente a um bom processador e um SSD NVMe. Mas os olhos do João certamente vão brilhar ao ver o preço baixo, dentro do orçamento de R$ 3.500, já que ele pouco ou nada entende desta parte. Além do mais, se o João quiser colocar uma memória DDR4 ou mesmo DDR5 no PC, vai ter que trocar a placa-mãe por uma que suporte tal tecnologia, mas ninguém contará nada sobre isto. Afinal, o objetivo não é necessariamente montar um produto que melhor atenda às necessidades dele, mas sim baratear o produto o mais possível.

 

Processador. Temos aqui um Celeron 847 com parcos 1.1GHZ de clock e um cache de míseros 2MB, sendo que, em processadores mais recentes, podemos ter cache de até 24MB. Tenhamos em vista que o CPU é o cérebro do computador, então, quanto mais rápido, tanto mais rápido fica o PC como um todo, principalmente se acompanhado de um SSD NVMe (item que analisaremos mais adiante). Além do mais, de acordo com o tipo de processador, temos a capacidade máxima de RAM que ele suporta em um upgrade. No caso do Celeron 847, o upgrade máximo de memória suportado é de 16GB, enquanto quase qualquer modelo mid-end mais atual suporta o dobro disso.

 

Um clock e IPC mais rápidos ajudarão o PC a ter melhor desempenho em tarefas mais complexas, como no caso dos programas utilizados para aprender programação. Alguns desses programas podem ser bem pesados, demandando muito mais tarefas a serem decodificadas por segundo, o que requer um processador com clock básico de, no mínimo, 2GHZ. 

 

Nota: No geral, processadores Intel Celeron não são aconselháveis. No geral, os Celeron têm apenas 2 núcleos, quando usamos, atualmente, modelos de, no mínimo, 4 núcleos. Lembrando que, quanto mais núcleos/threads o processador tem, mais "espaço" de processamento ele tem para as tarefas que o PC demandar, sendo, portanto, mais rápido.

 

E o vendedor vai contar alguma dessas coisas? Certamente que não, pois o que ele mais quer é que o João pense que está levando um computador "sob medida" para as suas tarefas.

 

Placa de vídeo. Outro dia, vi um comentário de um desses canais do YouTube aconselhando um usuário que estava na dúvida sobre qual placa de vídeo pegar ao levar um notebook para estudos. O canal respondeu ao rapaz que uma GPU integrada já dava conta do recado, pois, em tese, seria "só assistir videoaula". Nesse momento precisamos respirar fundo, contar até 10, para não nos estressarmos.

 

Neste PC do anúncio, nem mesmo vídeo integrado tem, de modo que o João precisaria apelar para uma GPU dedicada, provavelmente uma NVIDIA da série GT, que também é bem fraca e só tem como utilidade dar imagem no PC mesmo.

 

Seria bom que ele pegasse ao menos uma GTX 1650 para ter uma boa folga no uso dos programas de programação. Mas um vendedor ou youtuber facilmente o enganaria dizendo que a placa integrada do Celeron 847 é suficiente, pois é "só para assistir videoaulas mesmo". Quando os programas começarem a travar no Celeron em conjunção com a GT "alguma coisa", certamente o mesmo youtuber que deu a dica não estará lá para ajudar a segurar a barra.

 

HD. Temos dois problemas aqui: primeiro, este PC não vem com SSD; segundo, o HD é de parcos 320GB, o que é bem pouco hoje em dia. Por um preço até bem baixo, você pega um HD de 1TB para arquivos mais massivos.

 

Sem contar que, se João usará o PC para estudos, é provável que, no curso, haja apostilas em PDF e/ou mesmo programas a serem utilizados no PC. Qualquer apostila com mais de 100 páginas pode facilmente passar de 10GB de tamanho, se descompactada. Junte isso a mais apostilas e programas, juntamente com o HD sendo usado como unidade de boot (o que requer um espaço específico para ele), e temos o estrago feito. Ocasionalmente, ele poderia particionar o HD, deixando uma partição reservada unicamente ao S.O. Mas, mesmo assim, devido ao funcionamento dos HDs de forma geral e a erros que ocorrem ao longo do tempo em discos rígidos tradicionais como unidade de boot, não aconselho tal tipo de uso.

 

Além do mais, a interface deste HD é SATA 2.0, enquanto estamos na 3.0, a qual torna o computador bem mais rápido como um todo, graças às maiores velocidades de processamento, acesso, leitura e gravação de arquivos que ela proporciona. Junte isso à falta de um SSD, e temos um belo conjunto "bomba".

 

Outra coisa: por ser mais lento no boot, o disco rígido pode tirar pontos do João nos estudos. Imagine só: João vai apresentar um trabalho no Power Point usando o projetor de slides do campus do curso. Supondo que ele tenha um notebook com as mesmas configurações mostradas no desktop acima, ele o leva para o campus e, por ter um processador mais fraco e dar boot via HD, o aparelho demora mais a ligar e logar no sistema operacional. Com isto, João perde pontos por demorar mais a apresentar o trabalho.

 

E o vendedor conta algo a respeito? Pelo contrário, ainda deve tentar engambelar o cliente com aquele papo de que o armazenamento de 320GB "é mais que suficiente".

 

SSD. Esta peça sequer deu as caras nesta configuração aqui. É um absurdo que, em alguns casos, sejam recomendados como "custo-benefício" PCs que sequer têm SSD! Isto só denota a sadoganância (sadismo + ganância) dos sites, blogs e canais do YouTube que tentam empurrar para o consumidor leigo e mais desatento estas tranqueiras encalhadas que nem para escritório servem mais! E, supondo que recomendassem ao João este PC do link que mostrei, seria até antiético recomendar algo tão ultrapassado.

 

placa-mãe. Ao vermos este componente crucial para a composição de um PC, vemos que o chipset é um Intel NM70. Com esta arquitetura, João ficará preso a portas SATA 2.0, PCI-E 2.0, USB 2.0, etc. O upgrade máximo de memória suportado pela placa é de 8GB, conforme especificações do fabricante. Veja mais aqui: https://www.ecs.com.tw/lp/Product/Motherboard/NM70-I/specification

 

Com isto, caso, um dia, João queira ou precise colocar um CPU e/ou uma GPU melhores, para dar conta dos programas do curso de programação, terá que trocar o PC praticamente inteiro, porque a motherboard não dá suporte às tecnologias mais atuais do mercado. E a turma do "custo-benefício", ou mesmo o pessoal dos canais do YouTube diz algo a respeito?

 

Para entender como a placa-mãe afeta as tecnologias de CPU e GPU, leia aqui: 

 

 

Outro detalhe é que, tratando-se de um chipset da ECS, não sabemos até onde se tem atualizações de BIOS.

 

Placa de vídeo. Simplesmente uma Intel HD Graphics 2000, que, basicamente, só serve para dar imagem no PC. Pode esquecer tarefas gráficas mais pesadas nela. E, se for o caso, o jeito é usar uma GPU com suporte a PCI-E 2.0, que é o máximo que esta motherboard aguenta, enquanto já estamos no 3.0 e alguns PCs já estão saindo com PCI-E 4.0 de fábrica.

 

Fonte. Error 404 not found. Nem mesmo é mencionada a fonte utilizada neste PC "bomba".

 

E o vendedor, ou a turma do "custo-benefício", contam essas coisas, ou explicam o porquê de estas tecnologias já serem obsoletas? Não, afinal eles precisam convencer o "cliente" que o melhor computador é o mais barato, então, nem tocaram no assunto fonte no anúncio. Com isto, João pode estar levando para casa uma bela fonte "bomba", que desarmará quando ele menos esperar, podendo acabar com todo um PC e arruinar a vida de quem só queria estudar e agora vai passar por mais esse perrengue. 

 

Para saber mais sobre como identificar uma fonte "bomba", veja aqui: 

 

 

 

Sistema operacional. O sistema utilizado por este PC ainda está "estacionado" no Windows 8, quando o 11 já é realidade. Daqui a uns 5 ou 10 anos, pode ser que o Windows 8 nem tenha mais suporte. Embora o Windows 10 tenha os seus problemas e o 11 ainda esteja em fase de aperfeiçoamentos, é mais seguro utilizá-los, em nome de atualizações futuras.

 

Antivírus. Apenas é dito que o antivírus da distribuidora (???) tem versão "trial" de 30 dias. Que distribuidora é esta? Não sabemos. No caso da versão básica do Avast mesmo, é comum que vejamos constantes problemas de vírus entrando nos PCs, pois a versão gratuita deles não combate os malwares, apenas avisa que eles entraram no computador, através deste som: 

 

 

 

Análise resumida sobre o PC "custo-benefício". Se João acatasse o conselho da turma do "custo-benefício", ele sairia com um PC com baixa quantidade e velocidade de RAM, um DDR ultrapassado, um HD com baixa capacidade de armazenamento (e sem SSD, o que traria problemas a longo prazo no boot do sistema), um processador extremamente lento, mesmo para tarefas mais básicas, e uma placa-mãe cujos upgrades estariam presos a uma tecnologia já defasada, tudo em nome do "custo-benefício".

 

Um PC com as mesmas configurações, porém da MSI, sai no Mercado Livre por R$ 986. Confira: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1764274529-cpu-msi-dual-core-hd320-DDR3-pronto-pra-uso-_JM?matt_tool=18956390&utm_source=google_shopping&utm_medium=organic

 

Montagem de PC em sites. Fazendo uma montagem rápida e simulada de um PC custo-benefício na TerabyteShop, montei este PC aqui: https://www.terabyteshop.com.br/produto/7618/computador-t-gamer-plataforma-intel-11-geração-LGA-1200-full-custom

 

O preço final, simulado, saiu a R$ 5.692,46 parcelado em até 12x sem juros no cartão, com parcelas de R$ 558,08, e R$ 6.697,01 com 15% de desconto no boleto ou Pix. É uma configuração que atenderia bem ao João, de acordo com o uso dele nos estudos e no curso. Futuramente, ele poderia ampliar seu espaço no SSD e/ou adicionar um HD de 1TB, mas já seria um bom começo. Deste preço, R$ 70 são só da montagem em casa, então descartemos este preço, a critério de prática, e foquemos nas peças.

 

Com este preço, João sai com um I5-11400, uma GTX-1650, 16GB de memória, SSD de 1TB, fonte de 650W e gabinete com 3 fans. Além de dar conta dos estudos leves, também leva com alguma sobra eventuais programas que o PC demandar. 

 

Neste caso, João, se escolher pagar em 12x no cartão, pagará R$ 558,08 mensais, mas será um dinheiro muito bem aplicado, em peças duráveis e de qualidade, que evitarão dores de cabeça a longo prazo. O preço ficou até em conta. Estourou um pouco o orçamento, mas, em compensação, ele levará para casa um PC que atenderá muito mais às suas necessidades se comparado a um PC de escritório que a turma do "custo-benefício" lhe empurraria.

 

Comentários e observações. Ao adquirir um PC, busque, sempre que possível, comprar um exemplar com configurações superiores às que você vai usar. Assim, se, eventualmente, no futuro, você precisar rodar algo mais pesado no computador, seja em trabalho, estudos ou mesmo jogos, em um primeiro momento, não será necessário trocar nenhuma peça, pois o seu PC já dará conta do recado.

 

O aviso fica reforçado a quem for adquirir um notebook, pois, em notebooks, é muito mais difícil fazer upgrade de CPU, GPU e placa-mãe, porque 1 - o processador e/ou a placa de vídeo estão soldados na placa-mãe, 2 - a placa-mãe está soldada na carcaça ou 3 - os dois subtópicos anteriores juntos.

 

Minha experiência pessoal. Quando eu fazia faculdade, imaginava que não precisaria rodar programas pesados em um PC, pois, em tese, seriam apenas matérias teóricas, e as matérias práticas não envolveriam o uso de computadores, eu pensava. Mas logo no segundo período veio a ducha de água fria.

 

Naquela época, no segundo semestre de 2016, tivemos uma matéria de editoração gráfica, a qual requeria o uso de três programas do pacote Adobe: Photoshop, Illustrator e InDesign. O notebook que eu usava na época era um Acer Aspire 3100-1033, com 1,5GB de RAM (originalmente eram 512MB, mas depois adicionei um pente de 1GB), processador AMD Sempron 3400+ de 1.8GHZ, placa de vídeo AMD ATI Radeon Graphics e HD de 55,7GB utilizáveis. Claramente, aquele notebook "só para estudos" não me serviria para o propósito de usar os programas que a disciplina requeria.

 

Anos mais tarde, no primeiro semestre de 2019, eu estava usando um Itautec Infoway 7535, com 4GB de RAM, um I3-2310M de 2.1GHZ, com uma GPU integrada Intel HD Graphics 3000 e 500GB de HD, com 465GB utilizáveis, sem SSD (nem sabia o que era isso na época). Na ocasião, precisávamos usar o Adobe Premiere (ou qualquer outro software de edição de vídeos) para editarmos vídeos que eram corriqueiros na época. Alguns, mais "hardcore", usavam até o After Effects. E eu, na época, sem dinheiro para pagar um profissional para fazer a troca de pasta térmica do I3 (ele não via uma pasta térmica nova desde que saiu de fábrica) e limpeza dos coolers, vi o I3 chorar para rodar o Vegas, um software alternativo que tentei usar.

 

Se eu já passei por tudo que passei com esse notebook, imagina a galera do notebook Positivo com Celeron... e eles eram maioria por lá.

Os alunos e professores que usavam Positivo, Sony Vaio, HP, Samsung de linha mais básica, etc., sofriam com seus notebooks, cada um pior que o outro. Se os alunos tivessem comprado algo melhor e mais duradouro no lugar de um notebook "custo-benefício" e "só para estudos", não teriam entrado nessa enrascada.

 

Então vai por mim: compre um desktop ou notebook com configurações superiores às que você precisa, afinal, nunca se sabe o dia de amanhã. E não banque o Julius de "Todo Mundo Odeia o Chris", fazendo economias "porcas", porque isso vai te dar mais dores de cabeça no futuro. Pegue algo um pouco além do que você precisa, pois nunca se sabe...

 

Se você tem algum comentário construtivo a acrescentar, te convido a comentar e agregar mais a esta discussão. Sua experiência pessoal também me interessa muito!