Phil Hester entrou na AMD em setembro passado como o novo Executivo-Chefe de Tecnologia (CTO - Chief Technology Officer), substituindo Fred Weber nesta função. Hester trabalhou durante 23 anos na IBM em vários cargos (incluindo CTO da divisão de PCs e vice-presidente do departamento de desenvolvimento de hardware do RS/6000). Saiu da IBM em 2000 para fundar a Newisys, uma empresa dedicada a construir servidores baseados nos processadores Opteron, que foi depois comprada pela Sanmina-SCI em 2003. Nesta entrevista exclusiva para o Clube do Hardware, Hester fala dos planos, estratégias e novos processadores da AMD e também um pouco da sua experiência profissional.
Que produtos a AMD está atualmente desenvolvendo?
Eu divido esta resposta em duas categorias. A primeira são produtos para o mercado de PCs como o conhecemos hoje. A segunda são produtos para oportunidades emergentes, particularmente dispositivos de informática para países em desenvolvimento.
Na área de PCs tradicionais nós temos produtos em desenvolvimento que serão otimizados para notebooks, desktops e servidores. E há temas comuns como eficiência elétrica, preço, desempenho, confiabilidade e escalabilidade. Nós traremos as tecnologias de virtualização e segurança para essas três áreas. Mas obviamente a implementação de um produto para cada uma dessas áreas é otimizada para aquele segmento de mercado em particular. Para o mercado de notebooks nós estamos otimizando dispositivos de baixo consumo e baixo custo; nós estamos nos concentrando em dispositivos com boa eficiência elétrica e térmica para os desktops e estamos nos concentrando em projetos de escalabilidade, eficiência elétrica e térmica e alta disponibilidade para o segmento de servidores.
Além dos mercados tradicionais, a AMD também tem iniciativas para novas oportunidades em dispositivos de informática, em particular em países em desenvolvimento. Isto inclui a iniciativa 50x15, onde queremos ver 50% do mundo conectado à Internet até o ano 2015, e nós estamos desenvolvendo produtos que podem ser melhores indicados para mercados diferentes para tentarmos atingir essa meta. Dessa forma coisas como o PIC, Personal Internet Communicator, e a iniciativa Um Laptop Por Criança (One Laptop Per Child), do Nicholas Negroponte do MIT, são bons exemplos de produtos especializados que nós temos desenvolvido para esses mercados.
O que você pode nos dizer sobre o que a AMD pretende desenvolver? O que você acha que serão tecnologias “quentes” no futuro?
Bem, “quentes” é uma escolha interessante de palavras, já que um dos problemas em que estamos nos concentrando é a eficiência térmica. Se você olhar historicamente para o mercado de notebooks desde o primeiro dia de sua existência, o projeto do microprocessador tinha que ser pensado em termos de eficiência elétrica e térmica. Isto determinava diretamente por quanto tempo a bateria de um notebook duraria, e isto era uma coisa claramente visível pelo usuário final.
Dessa forma nós começamos a olhar para o problema da eficiência elétrica perguntando uma questão, “com o que o usuário final se importa e o que nós podemos melhorar para incrementar a usabilidade do usuário final?”. Como resultado, além do nosso foco histórico em gerenciamento elétrico para o mercado de notebooks, nos concentraremos ainda mais na eficiência elétrica no mercado de desktops e servidores. Se você observar a computação corporativa e quanta energia elétrica é consumida com PCs, você verá que isso representa uma parcela significativa da conta de luz. O custo e a construção de centro de processamento de dados são normalmente limitados não só ao espaço físico, mas também aos requerimentos de refrigeração dos servidores de alta potência. E há uma regra prática interessante aqui: se você olhar para um PC ou um servidor em uma empresa, para cada um watt de energia que este dispositivo consome normalmente há três watts de energia entrando no prédio. Estes três watts são divididos em um watt para o dispositivo, provavelmente 200 miliwatts para a distribuição elétrica e a potência restante, quase 2 watts, é consumida pela refrigeração.
Desta forma, a questão é em torno desta alavanca três-para-um, onde para cada watt que vai para um computador localizado no CPD o medidor de consumo elétrico marca três watts. Esta é uma boa maneira de lidar com as questões de consumo elétrico; é também uma responsabilidade ecológica e algo que estamos apoiando. (Nos outros países a fonte de energia mais comum são usinas termoelétricas, que necessitam queimar óleo para funcionarem, daí a questão ambiental levantada).
Nós temos várias iniciativas em andamento, desde o desenvolvimento de novas tecnologias de transistores até o desenvolvimento de novos sistemas computacionais, além de trabalharmos com os fornecedores de sistemas operacionais, todos direcionados ao aumento da eficiência elétrica e térmica em todos os níveis, de notebooks a servidores.
Em termos de tecnologias-chave, nós também acreditamos que, na medida em que a mídia digital tornar-se mais popular, coisas como privacidade, segurança e gerenciamento de direitos autorais tornam-se muito importantes.
Uma outra tecnologia que estamos focando é o paralelismo e a chamada tecnologia de núcleos múltiplos. Se você olhar para o que há no mercado hoje, os processadores topo de linha são todos de núcleo duplo, ou seja, dois processadores dentro de um só processador. No mercado de servidores, de um ponto de vista de software, programas paralelos e multi-thread estão muito bem estabelecidos e podem tirar proveito imediato da arquitetura de núcleo duplo hoje e da arquitetura de múltiplos núcleos no futuro.
Isto não é necessariamente o caso dos programas voltados a desktops e notebooks, que há mais de 20 anos são desenhados para rodarem em um ambiente com apenas um processador instalado. Então há muito trabalho a ser feito com os desenvolvedores de software para termos certeza que estamos criando programas multi-thread e que suportem mais de um processador, para que, na medida em que a tecnologia de múltiplos núcleos evolua no mercado de usuários finais, os programas estejam ali para acompanhá-la e darem ao usuário o aumento de desempenho que eles esperam.
Quando você acha que processadores AMD suportando memórias DDR2 chegarão ao mercado de usuários finais?
Isto ocorrerá agora em 2006.
Há algum plano da AMD para substituir a microarquitetura AMD64 por uma nova microarquitetura no futuro?
Eu divido as coisas em dois níveis aqui. Um nível é o da arquitetura do conjunto de instruções na macroarquitetura. Nós acreditamos piamente que total compatibilidade com os programas atualmente existentes é um requerimento indispensável; nós nunca quebraríamos a compatibilidade por causa dos benefícios que ela dá aos nossos clientes e usuários de PCs.
No nível da macroarquitetura, da mesma forma que você viu evolução no conjunto de intruções x86 para incluir coisas como as instruções de ponto flutuante e agora extensões para a virtualização e segurança, nós esperamos que outras extensões de menor porte continuem a ser criadas na medida em que a arquitetura x86 entra em novos segmentos de mercado.
Uma discussão de segundo nível é em torno da arquitetura interna do chip. Na microarquitetura, as otimizações que você precisa fazer para construir um processador otimizado para notebooks, desktops e servidores são diferentes. Na medida em que avançamos, nós estamos desenvolvendo novas microarquiteturas que são desenvolvidas para dar total suporte à macroarquitetura atual, mas implementadas de uma forma que são melhor otimizadas para o mercado em que elas serão inseridas. Desta forma, você verá uma microarquitetura otimizada para o mercado de notebooks, uma para o mercado de desktops e uma para o mercado de PCs.
A AMD já tem planos para o desenvolvimento de processadores de 65 nm?
O que eu disse em novembro passado em nosso encontro anual para analistas continua válido. Nós temos protótipos em 65 nm rodando em nossa Fab 36 em Dresden desde junho passado; nós planejamos começar a produção de chips de 65 nm no segundo semestre de 2006 e nós planejamos ter a Fab 36 substancialmente convertida para 65 nm em meados de 2007.
A respeito do notebook de US$ 100 proposto por Negroponte, que é baseado em um processador da AMD (eu acredito que seja um membro da família Geode), até o momento nós não tivemos nenhuma declaração oficial da AMD?
Nós somos um membro-fundador da iniciativa Um Laptop Por Criança (OLPC, One Laptop Per Child) e acreditamos que esta iniciativa é muito interessante e uma abordagem inovadora para trazer a Internet para mais pessoas ao redor do mundo. A iniciativa 50x15 é um comprometimento muito sério na AMD, do Hector Ruiz para baixo, e a iniciativa OLPC é um bom exemplo disso. É importante notar que todas essas iniciativas em economias em desenvolvimento são baseadas em parcerias. Nós não estamos tentando controlar este espaço, nós estamos tentando permitir que ele ocorra, e para isso nós queremos ser inclusivos e não exclusivos.
Você veio para a AMD para substituir Fred Weber, que é considerado pai do Athlon 64. Isto pode ter levantado alguma desconfiança no mercado e até mesmo dentro da AMD. Até o momento, quais têm sido seus desafios na AMD como o novo CTO?
Eu e o Fred Weber nos conhecemos provavelmente há 15 anos e nossos caminhos se cruzaram várias vezes. Nós temos um profundo respeito um pelo outro e eu pessoalmente respeito todas as contribuições do Fred que ajudaram a AMD chegar aonde chegou.
A cultura aqui na AMD é muito amiga em termos de aceitar novas idéias e ir adiante. O que eu espero conseguir fazer é ajudar a levar a AMD ao próximo nível e construir em cima da grande base que o Fred e o resto da equipe criaram e ajudar a levar a AMD a ser uma verdadeira líder nos mercados nos quais competimos.
Meu maior desafio pessoal é somente me acostumar com a velocidade da AMD, no sentido de todas as atividades em que a AMD está envolvida e os diferentes grupos dentro da AMD em termos das suas qualificações técnicas e diversidades culturais.
Após 23 anos na IBM, você conhece de verdade a mentalidade da IBM. Quais são as principais diferenças culturais entre a IBM e a AMD?
Normalmente há uma percepção equivocada de que a IBM é homogênea. Se você perguntar a pessoas diferentes como elas descreveriam a IBM, você vai obter uma imagem de que ela é burocrática, grande, hierárquica e bem treinada (de uma maneira positiva).
Mas se você de fato entrar nela, cada grupo na IBM tem suas próprias personalidades. Certamente existem elementos desta imagem – os sapatos sociais, a cultura profissional, porém burocrática. Aqui em Austin, eu posso te dizer que a cultura era mais a do caubói, a cultura UNIX.
Enquanto eu estava na IBM eu tive a oportunidade de ter pelo menos 10 cargos diferentes, e cada um deles tinha uma cultura diferente associada a ele. E eu também tive o desafio e a experiência de viver durante a implosão e o renascimento da IBM e atravessar, se podemos chamar assim, da velha IBM para a nova IBM. Eu acho que isto abriu meus olhos para como você pode criar uma cultura empresarial mais forte que pode colocar os produtos certos no mercado de maneira mais eficiente.
Por exemplo, um dos meus cargos na IBM foi o de líder técnico de um grupo que veio de menos de US$ 100 milhões de faturamento para aproximadamente US$ 2 bilhões em três anos. Desta forma eu pude ver um crescimento explosivo e desenvolvi uma profunda compreensão do que eu me refiro como “processo escalar” em uma cultura colaborativa. Meu último cargo na IBM foi como CTO da divisão de PCs. Quando eu saí da IBM para abrir minha própria empresa, eu pude ver em primeira mão a cultura de uma empresa iniciante por aproximadamente dois anos, vender a empresa e então entrar em uma empresa de médio porte depois disso.
Desta forma, a resposta curta à sua pergunta é: eu vi uma grande parte das duas culturas, trabalhei em grupos de diferentes tamanhos e uma grande gama de desafios técnicos de dispositivos super, ultra portáteis até servidores de grande porte. Eu tenho um grande apreço em como a cultura importa.
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