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Este é um assunto que tem tomado uma dimensão cada vez maior na internet e merece ser abordado e detalhado de uma forma mais ampla, mais esclarecedora.

Apesar de eu não ser um técnico qualificado no assunto, me orgulho de me considerar um excelente “mechânico” e quero compartilhar com você do CDH a minha bagagem pessoal de conhecimentos adquirida ao longo do tempo com pesquisas, tentativas e erros.

Começando pela precificação, que é o assunto mais perguntado no momento, em apertada síntese qualquer técnico pode precificar o valor a ser cobrado com base no valor do material usado somado ao valor da mão de obra, é simples, básico e direto, sem delongas mas, eu levo em consideração para o cálculo do orçamento uma série de fatores a serem considerados em todo o processo, desde o momento em que o técnico recebe o equipamento danificado e faz uma avaliação prévia, passando pela elaboração do orçamento, apresentação do valor a ser cobrado, aprovação, execução do serviço, entrega do equipamento reparado e o pós prestação de serviço.

Até aqui tudo parece ser bem fácil e sem segredo ou mistério algum. Se você acha que não há mais nada a se comentar e que este artigo esgotou o assunto e não tem mais nada a acrescentar a sua base pessoal de conhecimentos, nem precisa ler o resto, pode abandonar agora e retornar às suas atividades.

Caso queira continuar com a leitura, eu prometo que alguma coisa de novo eu vou lhe expor e que pode ser um diferencial para quem quer se aventurar de forma profissional no ramo, me desculpando pelo texto muito longo.

A melhor maneira que encontrei para expor minhas ideias é fazer um comparativo com a reparação automotiva, isso mesmo, o conserto de veículos automotores e todo o agregado que gira em torno desta atividade comercial que é uma verdadeira loucura.

A indústria automotiva está em constante transformação, igualmente a indústria da informática e imagine por um instante o notebook sendo tratado como se fosse um veículo automotor, veja assim; um carro tem a sua parte mecânica e estrutural da mesma forma que o notebook. No carro o motor faz girar as rodas e assim consegue deslocar a estrutura, já no notebook , esta mecânica está basicamente no movimento de abrir e fechar da tela e na forma de ser manipulado e usado, desconsidere por enquanto outros detalhes como o abrir e fechar do leitor de DVD, tampas de proteção etc.

A estrutura do automóvel está baseada em partes metálicas e plásticas além de outros materiais, igualmente a estrutura do notebook, um macbook por exemplo;  tem mais metal do lado de fora e menos plástico por dentro enquanto que outros fabricantes tem mais plástico do lado de fora e menos metal do lado de dentro, a grande maioria quase nem metal tem.

Outra observação é comparar na parte estrutural um notebook tipo “Rugged” que não apenas tem uma camada de borracha em volta mas, em si toda uma estrutura de liga metálica, igual a um tanque de guerra, equiparado a um notebook básico igual a um fusquinha.

Os veículos automotores passam por testes para se verificar a segurança dos passageiros e os notebooks passam por testes para se verificar quando vão se tornar inservíveis de alguma forma.

Agora que tem em mente esta parte comparativa inicial, podemos passar para a situação de como é mais ou menos atualmente a reparação automotiva, existe todo um comércio em torno envolvendo peças novas, usadas, recondicionadas e do paralelo.

Além da parte das peças, existem oficinas de diversos tipos, desde as de grande porte até ao isolado profissional autônomo, prestador de serviços de forma eventual.

Igualmente, em torno do assunto de conserto de computadores existe toda uma indústria que também envolve o comércio de peças e de profissionais nos mais diversos níveis e setores.

Ufa! Se conseguiu me acompanhar até aqui podemos partir para a nossa primeira parte da prática comparativa, imagine que alguma coisa aconteceu com a estrutura do carro e também com a estrutura do notebook de forma que necessite fazer um reparo para que volte a funcionar normalmente, no caso do carro, na maioria dos casos existe toda uma documentação específica para se orçar e realizar o serviço, o avalista técnico olha e lança no computador o que deve ser reparado e/ou trocado, assim, todo o esquema com relação de peças, horas de trabalho e procedimentos a serem realizados já está pronto,  quantificado e precificado de forma automatizada, um luxo que pode ser também ser avaliado por um simples “olhômetro”; o mecânico bate o olho e já dá o preço, não precisa cotar peças e mão de obra, pela prática já sabe o valor certo.

Cabendo observar que em determinados casos é mais barato e rápido trocar parte da estrutura do que reparar, é ai que entra a relação do custo/beneficio e também a lei da oferta e da procura do mercado.

No caso do carro, a oferta de peças no mercado é muito grande e o consumidor tem a farta opção de escolher entre trocar ou reparar, geralmente quem contrata o serviço vai na opção mais barata mesmo que esta dure mais tempo e até desvalorize o veículo. É uma questão de cultura popular, poucas pessoas se atentam para o item de segurança veicular, a mentalidade de preço é predominante.

Ainda na reparação automotiva, existem muitos outros viés que também influenciam como por exemplo a desvalorização ou não do carro conforme a escolha do tipo de reparo ou serviço.

Já na reparação da carcaça do notebook, a indústria em torno não se desenvolveu tão bem, no sentido da prestação de serviços, na prática ocorre que os técnicos em sua maioria se especializam ou se dedicam a aprender a reparação lógica de defeitos e troca de peças, é mais fácil, rápido e produtivo, não precisa ficar se matando de tanto trabalhar. Apenas uma minoria faz a reparação/recuperação de eletrônica e outra menor parte ainda se dedica ao reparo das carcaças.

Em ambos os setores tem um nicho dedicado a antiguidades, onde as técnicas de restauração ficam reservadas a seus detentores.

Continuando na comparação, não existem documentos técnicos elaborados e prontos descrevendo como reparar a carcaça do notebook, muito menos sobre a segurança envolvida neste processo de reparo, muito ao contrário do caso dos automóveis.

Este campo precisa ser preenchido por desbravadores. Um carro é quase que uma arma fatal conforme o seu uso enquanto que eu nem imagino como um notebook pode matar ou mutilar alguém com o abrir e fechar da tela.

Em geral, as grandes oficinas de informática não trabalham com reparos nas carcaças, caso não exista reposição da peça no mercado, simplesmente condenam a máquina e não realizam o reparo.

A tarefa de reparação da carcaça se limita a alguns profissionais interessados. É um serviço que vai mais além do usual, é verdadeiramente uma obra artesanal.

Mais um aspecto; na área de informática os gabinetes de desktop tem uma enorme oferta no mercado, desde os novos quanto aos usados, diferente do “gabinete” ou carcaça dos notebooks, estes só tem oferta no mercado porque de alguma forma a máquina foi condenada em alguma parte e as demais peças foram “canibalizadas” ou melhor, anunciadas, colocadas à venda.

Tanto impressoras como notebooks são comercializados novos, inteiros, de forma completa, não são vendidos novos em partes, incompletos ou em peças como um desktop normalmente é, inclusive tem opção de montar a gosto do cliente, opção que não existe para o notebook.

No caso das impressoras existe todo um comércio dedicado a insumos ou partes que normalmente se trocam como fusores ou roletes que se deterioram rápido.

No caso dos notebooks, peças novas são oferecidas apenas no caso de algumas de maior saída como telas, memórias fontes etc. A carcaça não é oferecida como peça em separado e nova por nenhum fabricante, apesar da obrigação legal, prevista no código do consumidor, de se oferecer as peças de reposição

Não existe uma padronização para a carcaça do notebook tal qual é a seguida pelos gabinetes de um computador de mesa. Cada fabricante segue o seu esquema e assim como no caso dos automóveis, o design é um dos fatores predominantes.

Por falar em fabricante, existem marcas que não produzem seus próprios notebooks, apenas fazem uma encomenda e colocam a sua marca, por isso que muitas peças e até mesmo as carcaças são iguais, idênticas ou parecidas em marcas como Philco, Positivo, Semp, Compaq e outras. Comparando com a Xerox por exemplo; eles produzem realmente máquinas de Xerox mas, as impressoras comercializadas com a marca Xerox não foram desenvolvidas ou fabricadas pela Xerox, foram simplesmente encomendadas de outro fabricante e comercializadas com a marca Xerox.

O que acontece na realidade do mercado é que algumas máquinas são devolvidas na garantia e vão parar no estoque da assistência técnica, geralmente são juntadas em lotes e vendidas no estado mas, caso ocorra um pedido de carcaça, os técnicos jogam o preço de reposição lá em cima, tipo metade ou um terço do valor de um notebook novo e se o cliente pagar, desmontam o notebook em estoque e fazem a reposição.

Não existem ofertas de carcaças de notebook recondicionadas no mercado, ainda não há uma procura ou demanda que justifique. Se a procura de carcaças novas é pequena, quanto menos as recondicionadas, só tem mesmo ofertas de usadas.

Em alguns países não existem peças de reposição para veículos automotores, a previsão de uso é para um ou dois anos, depois disso o governo cobra taxas altas obrigando o consumidor a optar pela compra de um novo que acaba saindo mais barato do que manter o velho.

Aqui no Brasil, os equipamentos topo de linha são os equipamentos que se tornaram sucata nos EUA, por exemplo enquanto aqui o topo de linha eram os i5, lá nos EUA eram os i7.

Esta é a política e prática de consumo em termos mundiais, tudo é desenvolvido para durar pouco tempo, de um a dois anos, nada mais é desenvolvido para durar 10, 20 ou 30 anos como era antigamente. Hoje em dia impera a “obsolescência programada”, uma forma eficaz de se manter o ciclo de consumo.

Existem fatores sazonais que propiciam uma sobrevida a alguns equipamentos, usando um comparativo do comércio de veículos automotores novos e usados, às vezes as vendas de usados superam as vendas dos novos e vice versa, igual ocorre com as vendas de notebooks, num momento do passado as ofertas de notebooks novos eram muitas, podia-se comprar um novinho a partir de mil reais ou um velho, usado a partir de duzentos reais em média, eram poucos os anúncios e ofertas de peças/partes usadas, inclusive de carcaças de notebooks. Praticamente não existiam anúncios específicos de resina reparadora de carcaça.

Ai a pandemia foi chegando, as mercadorias novas deixaram de vir da China, a demanda pela compra de computadores para se trabalhar/estudar subiu vertiginosamente e praticamente da noite para o dia aquele notebook novo, básico que custava mil reais passou a custar dois mil e quinhentos enquanto que o preço do usado de duzentos reais pulou para mil reais.

Esta é uma das facetas da crueldade da lei da oferta e da procura.

O mercado permaneceu com a alta procura e a baixa oferta porque as mercadorias novas não estavam vindo para o Brasil, quem tinha vendeu praticamente a rodo todo o estoque.

Uma das consequências é que os usados ficaram altamente valorizados.

A relação de preço entre consertar ou comprar um novo mudou; de alguma forma saia mais barato comprar um novo e vender o usado quebrado. Agora sai muito mais barato consertar o velho quebrado. O ciclo de consumo mudou.

Esta mesma tendência foi observada alguns anos antes no caso dos celulares, quando proliferaram os cursos de conserto de celular e lojas de assistência técnica especializada para absorver a grande demanda de serviços de reparação. A cultura de descartar o velho e comprar o novo mudou para consertar o velho. Tanto é que hoje em dia existem muitas lojas especializadas em comprar eletrônicos usados e revender.

Este é o momento econômico em que compensa ao reparador de informática investir no aprendizado da reparação da carcaça. Seguindo a tendência da moda, a reparação está em grande e crescente alta.

Hoje, basta fazer uma busca no Google para se encontrar muitos anúncios específicos de resinas próprias para reparação de carcaças de notebook. Antes os anúncios vendiam a resina de forma genérica e não especificamente para a reparação de carcaça de notebook.

Certo, se realmente agora você se decidiu por saber mais e até mesmo investir na reparação de carcaças e quer saber como precificar e calcular seus futuros lucros, então este é o momento de compartilhar minhas informações, transmitir o meu norral técnico.

A coisa que considero como sendo a mais importante neste assunto de reparação é primeiro determinar a causa/efeito para depois escolher os métodos a serem utilizados.

A análise inicial dos danos deve seguir critérios, eu diria que quase os mesmos critérios do analista de danos em veículos automotores, via de regra eles seguem um roteiro e vão marcando com um “X” as partes afetadas atribuindo uma nota no final do checklist ou laudo.

Basicamente, do meu ponto de vista, são três os ramos principais que fizeram o notebook com a carcaça quebrada chegar nas mãos do técnico:

1- Má utilização;

2- Fadiga mecânica;

3- Erro de projeto ou falha na fabricação;

O primeiro está ligado ao comportamento do usuário, geralmente quando o equipamento não pertence a ele, como por exemplo uma empresa, o usuário tende a ser descuidado, deixando cair, não transportando de forma segura e abrindo e fechando de qualquer forma, como não é dele mesmo, se quebrar a empresa paga mas, mesmo com as pessoas que pagaram seu dinheirinho suado acontecem acidentes como sentar em cima ou má utilização por desleixo natural ou por falta de conhecimento, só depois que quebra é que passam a ter cuidado e a tentar evitar os danos. Existem casos isolados de ocorrências de ciúmes e tentativas de furto/roubo que no desfecho da ação danificam a máquina.

O segundo é um fenômeno natural que ocorre em todos os materiais sujeitos a um ciclo ou movimento repetido de tensão ou deformação, como por exemplo; o abrir e fechar, sempre jogar a bolsa no chão com o notebook dentro, segurar com apenas uma mão, deixar o notebook solto no porta malas enquanto faz um rally etc.

Cedo ou tarde a carcaça se rompe, lasca, quebra ou fica amolecida sem resistência, mesmo que o usuário tome todos os cuidados para evitar o inevitável.

O terceiro ramo meio que se confunde com o segundo, é praticamente a bomba relógio que veio programada de fábrica, a tal obsolescência programada ou então um erro na execução em alguma das etapas de fabricação, armazenamento ou transporte até chegar nas mãos do usuário. Um parafuso mal apertado uma exposição a algum produto químico ou uma etapa da inspeção de qualidade pulada ou negligenciada. A falha programada pode ocorrer dentro do prazo esperado pelo fabricante, ocorrer antes ou até mesmo não ocorrer, na vida nem tudo é perfeito e as coisas nem sempre ocorrem como queremos ou como os fabricantes querem.

Em cima destes três ramos básicos e das combinações ou não deles é que ocorre a novidade não desejada da necessidade de recuperação da carcaça, não desejada para o proprietário e bem vinda para o executor dos serviços de forma remunerada.

Identificar ou definir a provável causa dos danos vai se tornar o fator determinante para saber antecipadamente se vale a pena ou não executar o serviço.

Digamos que na análise inicial se verifique que todo o plástico da carcaça está com micro rachaduras e, além disso, está sem firmeza ou flácido. Minha experiência pessoal diz que neste caso, não adianta recuperar as partes quebradas ou rompidas porque em pouco tempo todo o resto da carcaça vai ceder e o cliente vai voltar furioso com o resultado.

São vários os motivos para a decomposição do plástico, sua “perda de plasticidade” ou perda de características termoplásticas, termorrígidas e elastômeros; longa exposição ao sol, erro na dosagem da liga ou temperatura no momento da fabricação, ciclos repetidos de aquecimento e resfriamento, tipo constantemente sai do ar condicionado e deixa dentro do carro fervendo exposto ao sol e vice versa, reação química, como por exemplo; eu tive um notebook que foi exposto a gases químicos durante o trabalho, eu limpei direitinho por fora, acontece que os gases que penetraram no interior se combinaram com a umidade do ar formando ácido sulfúrico e meses depois, quando eu menos esperava, a carcaça começou a se desmanchar como uma madeira comida por cupim, por fora tudo certo mas, por dentro tudo corroído ou comido.

Faça um teste com um copo plástico descartável, ele foi desenvolvido e fabricado para se usar apenas uma vez e ser descartado, para um único ciclo de vida, tente reutilizar ele várias vezes, por mais de um ciclo de vida, ele pode até durar bastante, vários ciclos mas, nunca vai durar a eternidade. Dentro de um lote de copos fabricados, sempre tem um ou outro que se rompe antes mesmo da primeira utilização e ainda alguns que se rompem assim que sofrem a pressão da água. A fadiga no plástico da carcaça de notebook se comporta da mesma forma.

Um caso à parte que não pode ser deixado de citar são as carcaças dos Rugged, as robustas ou industriais, elas obedecem a um requisito ou padrão para resistir a choques, água, poeira e outros, em suma; devem resistir a intempéries muito mais que os normais, na grande maioria estas carcaças são compostas por uma liga dita como metálica de alta resistência e leveza, na prática conseguem absorver um impacto com uma pequena deformação até um limite, ou seja amassados e arranhados aprovam a carcaça no sentido de que ainda podem ser usadas para o fim a que foram projetadas, a coisa fica feia quando aparecem trincas, rachaduras e quebras, este tipo de dano não tem como ser reparado, pelo menos eu ainda não descobri como, nestes casos a carcaça é condenada por irreparabilidade, mesmo que consiga emendar de alguma forma, a carcaça deixou de atender aos requisitos para o qual foi projetada.

Neste ponto eu uso como comparação o colete a prova de balas, depois que toma um tiro sai de ação, se torna inservível, cumpriu a sua missão e não tem tecnicamente mais a capacidade de reter novos disparos.

Eu comparo também a situação ao chassis danificado de um carro em que a norma de segurança viária impede que volte a circular normalmente.

Veja bem, a norma que o Rugged segue é apenas no processo de fabricação e depois que sai da fábrica não existe uma norma ou regulamentação que impeça a sua utilização da forma como o usuário a desejar.

No caso de impossibilidade de recuperação da carcaça, a única alternativa é sua reposição e se esta não for encontrada no comércio, a máquina fica condenada, a não ser que se fabrique ou se adapte uma carcaça, eu já adaptei um notebook 386 em uma maleta plástica de ferramentas, ficou funcional mas, esteticamente horrível, se tivesse usado uma maleta de alumínio poderia ter ficado bem melhor, como ainda não existem ofertas de produção de carcaças em impressoras 3D, quem começar a oferecer este serviço provavelmente vai se dar muito bem e ter ótimos lucros.

Na minha classificação; este evento marcado com um “X” na minha checklist seria o suficiente para dar a nota ou pontuação que significa perda total da carcaça.

Deixando estas causas mais radicais de lado e chegando à conclusão que compensa recuperar a carcaça, seja por falta de reposição ou por mera questão de preço menor, ainda tem que se verificar outros detalhes, os que vieram a causar o dano.

Se o usuário ou proprietário disse que sofreu queda e as marcas são condizentes, é muito provável que não ocorrerão surpresas adicionais.

Fora isso, a grande maioria dos rompimentos na carcaça está diretamente ligada na área de fixação das dobradiças.

Ainda no erro de projeto ou falha na fabricação, pode ser que por exemplo; um dos três parafusos de uma das dobradiças tenha vindo sem a trava rosca ou então, não foi apertado com o devido torque, ou até mesmo na hora de injetar o plástico na forma, tenha entrado uma bolha de ar ou faltado plástico exatamente na sustentação da contra porca do parafuso.

Em qualquer um destes casos, tenha em mente que o projeto foi estipulado para distribuir a tensão total nos pontos dos três parafusos e quando um deles deixa de exercer a sua função, seja por afrouxar ou por se soltar ou desprender a contra porca, a mesma força de tensão que era suportada por três parafusos passa a ser toda ela direcionada aos dois parafusos restantes, ou seja, a carga a ser suportada por ponto passa a ser maior, em outras palavras cada ponto foi projetado para suportar a tensão de 1/3 de carga e quando um ponto cede, os outros dois passam a suportar 1/2 carga em cada ponto. Isto é uma das causas aceleradoras de fadiga.

Situação análoga acontece com dois pontos sem carga, o único ponto de fixação restante passa a suportar sozinho a carga completa.

Entender que a causa da quebra da carcaça foi exclusivamente por este tipo de fadiga me habilita a realizar o serviço com segurança e ainda providenciar a trava rosca nos parafusos, evitando assim que o mesmo problema de quebra de carcaça venha a ocorrer em pouco tempo.

Uma forma muito fácil de identificar este tipo de situação é observar uma leve folga no movimento de abrir e fechar a tampa, esta folga é característica de parafusos frouxos ou soltos.

Além destas possíveis causas explanadas, a culpa do rompimento também pode estar relacionada direta ou indiretamente ao funcionamento das dobradiças que é um assunto para um novo post em separado por tantos serem os detalhes neles envolvidos.

Em resumo, apenas consertar a carcaça sem revisar o funcionamento das dobradiças pode fazer com que a carcaça venha a se romper novamente, como por exemplo; no caso de dobradiças quase travadas que requerem um grande esforço para abrir e fechar, podem assim ser a causa única e exclusiva para a quebra do plástico da carcaça.

O assunto é bem complexo e precisa ser esclarecido de forma esmiuçada para que não se venha a obter resultados insatisfatórios, digamos mais ainda por exemplo; que o técnico identifique que apenas os parafusos estavam frouxos e faz o devido reaperto mas, deixa passar desapercebido uma trinca no metal da dobradiça e quando realiza o movimento de abrir e fechar, o metal fadigado da dobradiça se rompe na trinca permitindo que a tela seja contorcida e como consequência o LCD quebra. Um grande prejuízo que poderia ter sido evitado com a sua prévia detecção ainda na fase de análise.

Entendeu agora porque eu considero a inspeção inicial mais importante?

O técnico tem que conhecer o funcionamento da mecânica do notebook e saber identificar as principais causas dos problemas, um bom olhar clinico não faz mal a ninguém.

Esta mecânica não é tão complexa como a de um automóvel, na verdade é bem mais simples, é praticamente um abrir e fechar combinado com torções, tanto da carcaça quanto da tela. Coisa fácil de dominar e nunca ser pego de surpresa por algo inesperado.

E quanto ao preço que devo cobrar?

Calma. Cada caso é um caso e em cima da análise efetuada inicialmente é que agora podemos estabelecer quais materiais e/ou técnicas serão utilizadas.

Tudo depende do caso concreto, digamos que a reparação é de pequeno porte, que sejam apenas algumas trincas iniciais e neste caso e circunstâncias da pressa ou não do proprietário lhe permitam utilizar um ferro de solda e um pedaço de plástico, no estilo da reparação de para-choques de plástico automotivos, no mínimo a ponta do ferro de solda vai se oxidar, ela foi feita para trabalhar com estanho e não para derreter e soldar plástico, este tipo de oxidação condena a ponta, ela não vai mais servir para solda eletrônica e o preço de uma nova deve ser incluída no orçamento.

Tendo definido o material e seu valor, falta quantificar as horas técnicas que vai precisar para desmontar e remontar a máquina, o tempo que levou para desmontar e avaliar já serve de parâmetro, por fim resta somar o tempo da execução do serviço em si. Na parte da recuperação da carcaça, inicialmente é uma mera estimativa e depois de algum tempo de prática e treino já vai ter um bom parâmetro, igual ao olhômetro de quem faz a reparação automotiva.

Cada profissional tem o valor de sua hora técnica, geralmente 45 minutos de mão na massa literal e 15 minutos de estudo operacional formam o que chamo de hora técnica, a grande maioria não conta assim e se baseia na hora cheia, toda ela em mão de obra sem considerar o tempo de pesquisa,  muitos a calculam em torno de R$ 60,00. Conforme o grau de especialização em nível técnico especifico, esta hora técnica pode chegar ou ultrapassar os R$ 400,00.

Agora vem a parte subjetiva, baseada na cara do cliente e no valor da máquina, este é um terreno meio sombrio e tenebroso em que o técnico tem que se posicionar, na parte da cara do cliente quanto a achar que possa ou não pagar mais pelo serviço eu não dou opinião, isso fica a seu critério e sua negociação, a cargo de seu feeling.

Quanto ao valor do notebook, pode-se usar uma regra de bom senso ou regra de dois pesos e duas medidas, se o notebook é de baixo valor, conforme o caso não compensa para o cliente pagar pelo conserto um valor superior a metade do valor do notebook, pode ser que somando o valor das horas técnicas com o valor do material, o orçamento fique inviável e neste caso se não quer perder o serviço, vale a pena cobrar menos do que o serviço vale e ganhar o cliente para futuros serviços. Ainda na mesma comparação, tem que levar em conta também, caso tenha disponível à venda outra carcaça igual e se o preço dela for menor do que o reparo.

Já nos casos de notebooks de alto valor, dá até para se cobrar a mais do que seria o normal e assim compensar a falta de lucro no serviço de baixo valor.

Como eu disse, a subjetividade nesta parte é grande, entretanto, o técnico pode optar por cobrar o valor justo de seu serviço, tipo seguir a tabela e neste caso, a honestidade sempre é a melhor opção.

Não quero dizer que cobrar a mais de um ou a menos de outro seja desonesto, é uma mera questão de prática comercial, não dá para levar tudo a ferro e fogo, cada técnico tem a sua bagagem, seu currículo, investimento de tempo e dinheiro em seus estudos e não dá para sair por ai trabalhando de graça, afinal de contas o trabalho é seu meio de sustento e sobrevivência.

Se o proprietário quer que realize o conserto com o notebook funcionando com ele digitando enquanto faz o reparo, o preço vai ser bem mais caro e ainda por cima se ele quer dar “pitaco” no serviço, vai custar os olhos da cara.

Outro fator encarecedor da prestação de serviço é o eventual transporte pelo correio, não só pelo valor do frete mas, principalmente pela possibilidade de apreensão por falta de nota fiscal, tanto na ida como na volta, eu não sei bem sobre esta parte de emitir nota de transporte, seja para reparo ou nota de entrada e saída, eu sei que a nota fiscal não impede a retenção ou apreensão, ela devidamente emitida possibilita que a mercadoria possa ser resgatada e não perdida em definitivo, o problema também se estende no trabalho e perda de tempo para correr atrás da liberação, conforme o valor da mercadoria nem compensa se dar ao trabalho de ir até o órgão para liberar.

O seguro quando contratado só cobre dano, roubo ou extravio, não tem reembolso quando é retido/apreendido por algum órgão governamental.

Outra situação que se deve levar em conta na precificação; tem cliente que trás a máquina desmontada e/ou com tentativas de reparo, este é o tipo de situação que mascara a real causa da fadiga e pode enganar ou trazer surpresas indesejáveis. No mínimo vai exigir mais tempo de análise e testes e ainda conforme o caso, precisa desfazer ou corrigir as tentativas de reparo anterior. No caso de se ter apenas a carcaça de plástico, sem os outros componentes para se testar o funcionamento do conjunto, a possibilidade de alguma falha na execução do serviço é grande.

Agora partindo para outros tipos de materiais, veja bem, via de regra; quanto mais barato o material escolhido, maior o tempo de cura ou secagem e menor a qualidade; quanto mais caro o material, maior a dificuldade de dosar a mistura ideal, menor o tempo de cura ou secagem e melhor a qualidade do reparo. Na parte de dificuldade em se usar um ou outro material não tem como se estimar, cada pessoa se dá melhor com um ou outro material. Só usando e vendo qual será o melhor para si mesmo, inclusive na técnica de como se aplicar.

Como exemplo; na faixa dos R$ 20,00 tem cola super bonder combinada com bicarbonato de sódio, se bem empregado, trás ótimos resultados com um custo bem reduzido, acontece que conforme o caso, é necessário ir trabalhando camada por camada até preencher toda a área desejada e assim tem que esperar algumas horas antes de se aplicar a próxima camada. Basicamente dá uma lixada no plástico para melhorar a aderência pinga a cola e joga o pó em cima, a reação química é imediata, não tem como modelar, tem que esperar secar bem antes de tentar remover os excessos.

Aqui também se empregam outras técnicas com mascaramento com fita adesiva, para que a cola não escorra e atinja partes que não devem ser coladas.

De qualquer forma, para quem não está acostumado, mister é treinar antes em outra carcaça velha, da mesma forma que se treina na reparação de placas eletrônicas.

No caso da resina própria para o reparo de carcaças, aquela que é anunciada como a melhor indicada, os preços do kit ficam em torno de R$ 80,00 a R$ 100,00. Confesso que nunca usei e vou ficar devendo qualquer dica extra nesta parte. Dê um Google e veja os materiais disponíveis.

Eu já brinquei com massa plástica e catalisador e posso dizer que não é fácil de se trabalhar, se por muito catalisador a massa endurece muito rápido e se colocar pouco, a massa fica mole e demora para secar. Sem contar que vai precisar duma espátula ou ferramenta para trabalhar na mistura e na aplicação na carcaça. Não recomendo porque cede fácil e se esfarela.

Não recomendo também o uso de durepoxi, ele é duro demais e acredito que o material a ser empregado deva ter um mínimo de flexibilidade para suportar a carga, o durepoxi não cede nada, se quebra como vidro ao ser forçado.

Além de tudo isso mencionado, eventualmente é necessário ajustar o reparo como remover rebarbas e nivelar a superfície,  e assim demanda uso de ferramentas como mini retifica, brocas e mini limas.

Enfim, um trabalho artesanal de moldagem e cola que nem todo mundo está disposto a realizar.

Convém enfatizar que a carcaça é geralmente composta de parte inferior e parte superior, e para que seja realizada uma manutenção, as partes devem se soltar, ou seja, o técnico não deve colar as partes juntas pois, do contrário, quando houver uma necessidade de desmontar a máquina, vai ter que quebrar a carcaça, no meio destas partes ficam os componentes. Em algumas máquinas tem também uma chapa de metal como reforço e em alguns casos esta parte também sofre rompimento e deve ser tratada como ocorre na recuperação de dobradiças, assunto de outro post.

Da mesma forma tem um sandwich na parte da tela, na frente tem uma capa e atrás tem a tampa, no meio fica o LCD, esta parte também está sujeita aos mesmos danos que ocorrem na carcaça, a diferença é que em especial, é muito mais fina e difícil de se trabalhar, a vantagem é que geralmente não é afetada quando ocorrem os danos ou a fadiga, pelo menos a manifestação nela é em menor escala, e caso necessite, existem muitos anúncios desta parte, o que torna mais fácil a sua reposição. Mas, quando não tem jeito e não dá para substituir, vale a pena tentar um reforço de malha de ferro, no estilo de concreto armado, não é um pedaço de concreto segurando uma arma, é uma malha de ferro coberta com concreto, como a camada de resina ou cola não tem como ser muito espessa pela falta de espaço, fica assim mais suscetível a empenar e trincar, menos resistente a torção. Eu já usei pedaços de fios de cobre como reforço e não tive problemas. Imitei a mesma técnica do concreto, colei partes dos fios de forma cruzada, joguei uma pitadinha de pó, preenchi com cola e joguei mais pó por cima.

Eventualmente, na remontagem final, as partes da carcaça podem ficar desalinhadas, tipo uma boca aberta, entre a tampa e a base, são vários os motivos para isto ocorrer como por exemplo; errar na posição do reparo, deixando mais alto que o correto, ou até mesmo a posição está certa e apenas a base ou a tampa estão empenadas, nestes casos tem que identificar o erro, realizar as mudanças tipo desbastar e rebaixar o que ficou mais alto e depois, se for o caso pode usar um soprador térmico para aquecer e desempenar as peças, isso se o plástico estiver em boas condições, sem rachaduras, eu não recomendo pingar gotas de cola para unir as partes justamente porque quando precisar desmontar de novo vai ter dificuldades.

Tem mais ainda, a fase de teste no final do serviço; observar o funcionamento da mecânica para ver se está tudo OK e em perfeito funcionamento, sem folgas, empenamento de carcaça, rangido ou estalos.

Um bom parâmetro de observação é colocar a tela para baixo apoiada na mesa e erguer a carcaça, fazendo o mesmo movimento de abrir com a posição normal do notebook, caso a tela mostre uma deformação ou empenamento em relação à linha da mesa, algo está errado e precisa ser identificado e corrigido, repita o teste com o notebook na posição normal, em pé.

Voltando na comparação da parte automotiva, também gira em torno desta indústria os serviços de embelezamento e de tuning, eles trabalham basicamente com o agrado do que se vê e o que se cheira e toca, ou seja, com sensações.

Geralmente a reparação de carcaça de notebook acaba ficando oculta, escondida dos olhos do usuário, o que os olhos não veem o coração não sente, o usuário não vê que dentro da sua máquina tem um remendo.

Existem exceções em que os reparos podem se manifestar do lado de fora como cicatrizes, às vezes consertar o plástico deixa marcas visíveis e ai entra a sensação do que o usuário vê, cheira e toca, pode ser que neste caso o cliente não fique satisfeito com o resultado final e é bom avisar antes de fazer o serviço que o notebook vai ficar com uma aparência medonha.

Um outro exemplo; é que quando realizo o reparo da carcaça, eu faço um processo de embelezamento externo do notebook, eu limpo meticulosamente a tela e toda a parte externa, creio que isto cause uma boa sensação no usuário, da mesma forma que deve ocorrer com pessoas que apreciam um carro novo, sentem o cheirinho de novo e de limpeza, veem o brilho da aparência de novo.

Existe no mercado automotivo o conceito de martelinho de ouro, aquele cara que faz a reparação na funilaria dando um aspecto de novo em folha, de perfeição.

Da mesma forma está em crescimento o conceito de pincelzinho de ouro, que é o cara que limpa meticulosamente cada parte e canto do carro, transmitindo ao dono as mesmas boas sensações.

Pensando nesta tendência automotiva, eu faço o transporte para a área de informática, ainda não ouvi falar de martelinho de ouro para a carcaça de macbook, eu mesmo já desamassei algumas e o resultado não ficou nada agradável aos olhos.

Agora, na parte do pincelzinho de ouro, eu notei uma boa mudança na expressão do rosto das pessoas que eu dei um trato no notebook, alguns nem reconheceram e pensaram que eu havia comprado outra máquina.

Especificamente no cheiro, tem máquinas que apresentam um cheiro de mofo insuportável ou então de tabaco, cachorro molhado ou uma “nhaca de macaco matado a bofete”.

No processo de avaliação da carcaça eu acabo lavando ela para avaliar melhor, também dou um trato com produtos específicos em todo o resto, ventoinhas, placa-mãe etc, no fim, ao término do serviço consigo transmitir uma sensação ou experiência ao cliente muito semelhante a sensação de carro novo.

O que eu quero dizer é que além do serviço de reparar a carcaça, acrescentar um plus de embelezamento valoriza o serviço e ajuda muito na satisfação final do cliente.

Talvez a troca de um adesivo manchado ou desgastado também dê uma boa sensação no cliente.

O preço deste embelezamento não é caro, só gasto alguns mililitros num serviço, o que perco mesmo é o tempo na execução dele mas, dá para fazer enquanto espero a cola secar.

A escova de acabamento (sem metal) e os panos de micro fibra, depois de lavados ficam como novos.

Agora acrescente a estes conceitos a “higienização”, considere como um protocolo de prevenção ao vírus, não o de computador, é o COVID mesmo.

Nos carros é um serviço cobrado à parte e muito requisitado, tem uma ótima saída, já na área de informática o que eu tenho visto é só uma passada de pano úmido por fora.

Trabalhando no consciente e no inconsciente das pessoas, dá para usar o termo “pacote de higienização” que seria dividido em interna (parcial) e externa (completa).

O preço qualquer ele que seja vai assustar e afastar os clientes, já que ninguém mais atualmente oferece o serviço e de forma inconsciente, o cliente ou procura um técnico que não cobre um valor a mais ou o próprio cliente passa um pano com álcool. Em tese ninguém tem medo ou receio de passar o vírus para outra pessoa, o que assusta mesmo é ser contaminado, isso varia muito de uma pessoa para outra.

A melhor estratégia de lançar a higienização no mercado é oferecer como cortesia, um plus, um diferencial que vai oferecer uma vantagem que os outros não oferecem e desta forma vai atrair mais clientes e quem sabe no futuro quando a moda pegar, quando a higienização de eletrônicos fizer parte do dia a dia, já pode começar a cobrar normal pelo serviço.

Por enquanto, pode até acrescentar esta parte do serviço de forma simbólica, uns cinco ou dez reais a mais em cada serviço para financiar a compra do material requerido.

Por fim, tem a parte do pós prestação de serviços e como afirmei antes, existe muita nebulosidade nesta área de reparação que não é uma coisa de prática usual no dia a dia e pode ser que o cliente fique descontente com o resultado do seu trabalho de artesanato.

Uma ou outra reclamação sem fundamento pode ser resolvida ou absorvida tranquilamente com os lucros de outros serviços mas, pode ocorrer do caso ir parar na justiça e seria bom o técnico ter seus direitos resguardados principalmente se a quantia envolvida for muito grande.

Como exemplo; uma situação hipotética, um cara compra um lote de 100 notebooks que foram devolvidos com o mesmo defeito nas carcaças e lhe contrata para efetuar os reparos com a finalidade de revender as peças.

Digamos que neste caso, tenha optado pela resina própria e que um kit é o suficiente para 10 máquinas, sendo assim, dez kits consertam as 100 máquinas, reparo fácil de ser executado  e desta forma o preço total do orçamento incluindo o material e mão de obra fica bem atraente, em torno de 100 reais por máquina, total de dez mil reais.

De alguma forma todo o serviço deu um problema e foi parar na justiça com o cliente querendo o seu dinheiro de volta alegando má prestação de serviço.

O Técnico gastou mil reais nos kits e trabalhou cem horas de serviço.

No juízo vale qualquer prova material ou documental, no caso parece que seria aplicado o direito do consumidor e um laudo técnico provavelmente faz a cabeça do Juiz, que fatalmente vai basear sua sentença neste laudo, este é o esquema normal de funcionamento da Justiça mas, aquele cheklist ou avaliação inicial que eu sugeri antes também pode ser admitido como meio de prova, além dele, também, pode ser elaborado uma espécie de “laudo cautelar”, o mesmo que as vezes é realizado quando se compra e vende um carro, eu não me refiro ao laudo de transferência, me reporto aquele laudo feito em atividade criminosa de exercício ilegal de profissão, onde a pessoa que assina não tem o devido curso e registro no CREA, o que ocorre na realidade é que o próprio CREA não faz nada, nem sequer aceita denúncia então, se um laudo sem legalidade, contrário as leis e regulamentos vigentes é aceito de forma natural e indiscutível no ramo do automobilismo, um laudo de informática sem uma Lei ou regulamento que o preveja no ramo de informática também será aceito da mesma forma.

O segredo que deve constar neste laudo é caracterizar o contrato de prestação de serviços como um meio para se obter um fim e não o resultado em si, em outras palavras, via de regra, entende-se, baseado no código de defesa do consumidor, que a reparação da carcaça é algo definitivo e permanente o que a torna em pé de igualdade com uma carcaça nova, com a recíproca garantia prevista em lei, ocorre que na realidade, quando se faz o reparo, apenas estamos estendendo ou prolongando uma vida útil ou uma maior resistência a novos ciclos até que a esperada e inevitável fadiga mecânica volte a se manifestar.

O técnico prestou um serviço de um meio para se chegar a um resultado, ele não prestou um serviço de um resultado. Apenas tentou adiar o inevitável, captou?

Transportando para a comparação com o setor automotivo, qualquer disputa do serviço de reparação vai igualmente ao mesmo sentido do laudo pericial mas, existem detalhes técnicos que podem contestar qualquer decisão, podem até dizer que este ramo é uma verdadeira terra sem lei, ocorre que existem uma série de leis específicas que regulam quem pode ou não operar no ramo de reparação automotiva, sem contar com outras leis específicas do modo como os reparos podem ser efetuados e ainda na capacitação técnica de quem pode assinar o laudo.

No caso do ramo de informática, não achei nada na lei que regulamente especificamente a atividade de reparar a carcaça de notebook, só consegui enquadrar em atividade artesanal, nem sequer achei alguma norma ABNT a ser seguida, aqui sim é ainda uma terra sem lei, a regulamentação para o profissional de TI ainda está em tramitação e ainda não existe algum projeto de lei que regule a execução dos serviços, o que eu descobri é que, nos termos da lei, não é qualquer um que pode assinar um laudo técnico, necessariamente o laudo técnico para ter validade legal e ser reconhecido sem contestação em contrário, tem que ser elaborado e assinado pelo profissional de informática com o devido curso e respectivo registro no CREA. Na prática qualquer pessoa preenche e assina um papel com o título de laudo técnico e se não for contestado passa a ser reconhecido como.

É isso. Espero ter acrescentado algo novo à sua bagagem e se quiser compartilhe também seus conhecimentos.

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