Lançado em 2001 para o mercado corporativo e computação de alto desempenho (HPC, High-Performance Computing), a produção do processador Itanium foi suspensa em 2020. O que aconteceu?
No início dos anos 1990, a Intel estava querendo lançar um processador para o mercado HPC que não fosse baseado nas instruções x86, que é o conjunto de instruções dos processadores utilizados em computadores pessoais.
Esse projeto foi batizado de P7, e muitas pessoas pensaram, erroneamente, que este seria um sucessor da arquitetura P6, utilizada pelo Pentium Pro, Pentium II e Pentium III. Como explicado, o P7 não seria baseado na arquitetura x86 e teria um mercado-alvo completamente diferente.
A empresa, porém, estava tendo dificuldades em decidir qual arquitetura utilizar, pois estudos internos indicavam que as opções propostas não eram economicamente viáveis.
Em 1993, a HP procurou a Intel para uma colaboração para trazer ao mercado uma arquitetura de processadores que ela estava desenvolvendo, posteriormente batizada de EPIC (Explicitly Parallel Instruction Computing), baseada em uma arquitetura chamada VLIW (Very Long Instruction Word). Trata-se de uma arquitetura diferente da x86 e da RISC, onde três instruções são encapsuladas em uma única instrução e com bits extras para indicar a dependência entre as instruções, entre outros aprimoramentos. Nos artigos “Merced: o sucessor do Pentium II” e “Arquitetura de 64 bits da Intel (IA-64)”, você encontrará explicações detalhadas sobre como essa arquitetura funciona.
A Intel topou a parceria, e o codinome para o primeiro processador baseado nessa nova arquitetura foi definido: Merced. Após anos de atraso, este processador foi lançado em 2001 com o nome comercial Itanium.
A HP chamava o seu conjunto de instruções de PA-WideWord, que foi renomeada pela Intel para IA-64 e, posteriormente, Arquitetura Itanium. Como explicado, tratava-se de um conjunto de instruções diferente do x86 (agora chamado IA-32 pela Intel) e, portanto, não rodava o mesmo software: sistemas operacionais e programas precisavam ser compilados para a nova arquitetura.
Em seu lançamento, o Itanium sofria de sérios problemas de desempenho devido a erros de projeto em seu subsistema de memória, ficando para trás de seus concorrentes. Mesmo a Intel tendo lançado o Itanium 2 no ano seguinte, que corrigia os erros de projeto do Itanium, e lançamento de novos modelos ao longo dos anos, a aceitação de mercado do Itanium sempre foi relativamente baixa, devido à pouca quantidade de software disponível.
Em 2006, 80% dos processadores Itanium foram vendidos em servidores HP; em 2015 apenas a HP vendia servidores baseados no Itanium. De acordo com a empresa de pesquisa Gartner, em 2007 foram vendidos cerca de 55.000 servidores dotados de processadores Itanium, contra 417.000 servidores RISC e 8,4 milhões de servidores x86.
Paulatinamente, o mercado-alvo dos processadores Itanium, o de computação de alto desempenho, foi sendo preenchido por servidores x86, dado ao aumento no desempenho desse tipo de processador, em particular com o aumento ao suporte a múltiplos processadores e a utilização de clusters. Em 2004, 16,8% da TOP500, lista dos supercomputadores mais poderosos do mundo, era composta por sistemas baseados no Itanium. Em 2012, esta proporção era de apenas 0,2%, e desde novembro de 2012, nenhum sistema Itanium aparece nessa lista.
Por conta desses fatores, em 2019 a Intel emitiu um comunicado que só aceitaria novos pedidos de processadores Itanium até 30 de janeiro de 2020, e que envios cessariam em 29 de julho de 2021, datas que foram cumpridas à risca.
De fato, a HP pagou milhões de dólares para a Intel continuar fabricando processadores Itanium. Em documentos que vieram à tona em um processo da Oracle contra a HP, em 2008 a HP concordou pagar US$ 440 milhões à Intel ao longo de cinco anos (2009 a 2014), com novo contrato de US$ 250 milhões assinado em 2010 para a Intel continuar fabricando o Itanium até 2017. Se não fosse por estes contratos, a Intel muito provavelmente teria abandonado o Itanium muito antes.
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