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Grandes produtos que não sobreviveram


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Grandes produtos que não sobreviveram

Artigo de minha autoria publicado originalmente no site ExecTweets. Traduzido e republicado com autorização.

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De tempos em tempos as empresas lançam grandes produtos que simplesmente não sobrevivem no mercado. Vamos dar uma olhada em alguns deles e tentar entender porque eles morreram.

O melhor exemplo é o Apple Newton, um produto lançado em 1993 e que deu início à indústria dos PDAs (na verdade “Newton” era o nome da plataforma; os produtos eram chamados “MessagePad”). Ele tinha várias tecnologias interessantes, como por exemplo, reconhecimento da escrita. Os primeiros modelos lançados eram vendidos por US$ 700 e US$ 900 (algo entre US$ 1.025 e US$ 1.320 em dinheiro de hoje, respectivamente) e isto pode explicar porque as vendas não foram um sucesso. O seu rival, o PalmPilot, só chegaria ao mercado em 1996, o que em teoria dava à Apple muito tempo para dominar o mercado, mas os primeiros dois modelos Pilot custavam menos da metade – apenas US$ 299 e US$ 369 (US$ 405 e US$ 500 em dinheiro de hoje, respectivamente) –, fazendo de “Palm” um sinônimo de qualquer dispositivo de mão.

Outro grande exemplo é o MiniDisc (MD). Criado pela Sony e lançado em 1992, tratava-se de um pequeno CD regravável protegido por uma caixa rígida. Embora a Sony tenha licenciado a tecnologia para outras empresas (procedimento incomum para este fabricante), a queda dramática nos preços das mídias CD-R e gravadores e a explosão dos tocadores MP3 literalmente arruinaram o MD. A propósito, é sempre bom lembrar que o MD usava um esquema de compressão baseado em perda de dados chamado ATRAC e por isso a qualidade de áudio não era a mesma do CD (mas melhor do que a do MP3) – a Sony lançou uma versão do MD onde o usuário podia desabilitar a compressão de dados para obter uma maior qualidade no áudio, chamada Hi-MD.

A tecnologia Microsoft SPOT é outro grande exemplo. Lançada em 2002, esta tecnologia permitiria a aparelhos domésticos, tais como cafeteiras e geladeiras, a rodar programas. A ideia era permitir que os aparelhos interagissem com o usuário e o ambiente, mas parece que não houve muita gente interessada em comprar uma cafeteira que informasse a previsão do tempo – na verdade a chegada dos smart phones, onde você pode instalar aplicativos, resultou na “morte” da tecnologia SPOT. Para que a geladeira informe que você está sem leite, ainda há algumas limitações práticas a serem superadas, como a instalação de sensores para dizer quais caixas ou garrafas dentro da geladeira são de leite – e o incrível custo de instalar tais sensores.

E o videofone, um telefone onde você também poderia ver a pessoa com quem estava falando? Lançado pela AT&T nos EUA em 1960, o serviço nunca vingou, chegando a ter apenas 500 terminais em operação. Havia vários empecilhos para a adoção em massa do sistema. Não apenas ambas as pessoas envolvidas na conversa telefônica tinham que ter um videofone, mas era necessário um novo cabeamento (o sistema não usava o cabeamento telefônico existente) e um amplificador de sinal a cada 1,6 km de cabo. O custo para o serviço era de US$ 90 por mês em 1974 (US$ 390 em dinheiro de hoje). Entre 1992 e 1995 a AT&T tentou reviver o sistema, desta vez usando linhas telefônicas analógicas, mas o negócio não foi para frente. A principal lição? Talvez as pessoas não queiram ver as outras durante uma conversa telefônica – até porque atualmente nós temos a tecnologia de videoconferência baseada em webcam disponível e não a adoção não é alta. O principal legado? Um símbolo da cultura pop da Era Espacial, como visto em 2001: Uma Odisséia no Espaço e Os Jetsons.

O primeiro computador pessoal com interface gráfica com o usuário (GUI) e mouse – o Apple Lisa – foi lançado em 1983 e foi um grande fiasco. O motivo? Seu preço exorbitante: US$ 9.995 (US$ 21.250 em dinheiro de hoje – ai!). A solução? Enterrar no meio do deserto as unidades do Lisa que não foram vendidas para ter direito a uma dedução no imposto de renda. A propósito, a maioria das pessoas pensa que o Macintosh foi derivado do Lisa, mas isso não é verdade. Ambos compartilhavam os mesmos conceitos básicos como interface gráfica com o usuário e o mouse, mas eles funcionavam de maneira diferente (por exemplo, o Lisa tinha recursos de proteção de memória e multitarefa cooperativa, recursos esses que só foram adicionados ao Macintosh anos depois). Uma segunda versão, chamada Lisa 2, foi lançada em 1984 custando metade do preço. Em 1985 a Apple decidiu renomear o computador Lisa 2/10 (o número após a barra indica a capacidade do disco rígido, em MB) para Macintosh XL e reduziu o preço para US$ 4.000 (US$ 7.870 em dinheiro de hoje), e este modelo em particular foi apelidado de “hackintosh”, porque ele tinha que executar um emulador chamado MacWorks XL para rodar aplicativos do Mac, já que internamente ele ainda era um Lisa.

Você já viu um LaserDisc (LD)? Ele foi a primeira mídia óptica para armazenar filmes, lançada em 1978 (sim, 1978). O disco tinha o mesmo tamanho de um disco de vinil de 30 cm e, embora popular na Ásia, não ganhou popularidade no resto do mundo (claro que ele era o sonho de consumo dos videófilos durante os anos 80). Existem várias razões para isso: o disco era muito grande e era suscetível a arranhões; cada disco poderia armazenar apenas 30 minutos (em modo “standard play”) ou 60 minutos (em modo “extended play”, que não permitia pausa ou exibição em câmera lenta) por lado, e você tinha que virá-lo manualmente no meio do filme (aparelhos que poderiam automaticamente mover a cabeça óptica foram lançados depois); por causa da capacidade relativamente baixa de cada disco, um único filme poderia ser armazenado em dois ou mais discos; tanto o aparelho quanto o disco eram muito mais caros do que outros formatos para vídeo doméstico, como o VHS (o primeiro aparelho da Pioneer, lançado em 1980, custava US$ 750 – US$ 1.925 em dinheiro de hoje); e, especialmente nos EUA, havia uma confusão entre o LaserDisc e o CED (Capacitance Electronic Disc), um formato inferior onde as informações de áudio e vídeo eram gravadas em discos de vinil (eca!), porque ambos foram genericamente chamados “Videodisc”. Um aspecto tecnológico importante do LaserDisc é que, diferentemente dos DVDs, o vídeo era armazenado em formato analógico, não digital. O áudio poderia ser armazenado em formato analógico ou digital. Como legado o LaserDisc deixou algumas ideias que foram adotadas nos DVDs, como trilhas de áudio adicionais para comentários e a divisão do filme em capítulos.

E o que dizer da fita cassete digital (DCC, Digital Compact Cassette)? Lançada em 1992, aparelhos DCC poderiam tocar fitas cassete analógicas e a nova fita digital. Os produtos concorrentes da época foram o MiniDisc (MD) e o Digital Audio Tape (DAT). Enquanto as fitas DAT tinham uma legião de seguidores – especialmente na indústria de áudio profissional, já que armazenava áudio descompactado, ou seja, com qualidade de CD ou melhor – o DCC nunca vingou. Ele usava um mecanismo de compressão chamado PASC (assim como os MDs, que utilizam um mecanismo de compressão chamado ATRAC), portanto a qualidade de áudio, embora melhor do que a mídia analógica, tecnicamente não era igual ao CD (assim como acontece com o MP3 de hoje). Em teoria parecia uma ótima ideia lançar um formato de fita digital compatível com fitas cassetes antigas. A Phillips matou o DCC em 1996, em parte porque eles não conseguiram iniciar uma campanha de marketing forte o suficiente para fazer com que os consumidores abraçassem o novo formato, isso porque as pessoas que estavam procurando por uma mídia digital para usar em casa estavam mais interessadas no MiniDisc e em seu tempo de acesso mais rápido (como o DCC era uma fita, você precisaria esperar um pouco para ouvir a trilha selecionada, além de ter lados A e B, assim como uma fita cassete comum).


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Comentários de usuários

Respostas recomendadas

Não acho que esses são produtos grandiosos, são boas idéias, que não vingaram por alto custo e utilidade questionável.

O custo é o fator mais relevante, tanto é que quando a concorrência entra com produtos pela metado do preço sacode o mercado, mesmo sendo produtos de fabricação e qualidade duvidosa acabam consumidos pelo baixo valor.

Produtos e tecnologias realmente necessários não tem como serem esquecidos.

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Bah, o MD já foi meu sonho de consumo, na época em que ainda não existiam aparelhos de som que tocavam CDs com MP3, só que o valor do player de MD era praticamente o MESMO de um bom aparelho de som na época, realmente o "custo novidade" tornam certas coisas inviáveis no início mesmo...

Outra coisa que já "nasceu morta" foi o discman que tocava CDs com MP3... No tempo já era possível encontrar esses MP3 players "genéricos" (esses que parecem uma salsicha) nos camelôs custando uma fração do preço do discman. Até tentaram fazer um discman menor, que só funcionava com aqueles mini-CDs de 8cm (cabia em torno de 100músicas em MP3), mas acho que esse só ficou no papel mesmo.

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O Newton chegou a ser usado pela distribuidora Arcom aqui no Brasil, como ferramenta de suporte a vendas. Era muito bom e é lembrado com saudades pelos vendedores.

Já o MD pegou mesmo no Japão, lá era super popular...

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Putz, na época(1996-1998) tive a chance de adqurir um aparelho de som com MD e tocador portátil, eram o que tinha de melhor no Japão nesse nicho e digo que era o melhor sucessor da fita cassete: mais prático e com ótima qualidade (mas como foi dito menos que a de um CD). O sucesso dele no Japão acho que foi consequência da época em que essa tecnologia foi lançada lá, imagino que por volta de 1994 (só um chute, talvez eu esteja enganado) e então teve mais tempo pra crecer, amadurecer e se popularizar por ali.

Usei-os por um bom tempo, mas realmente logo depois veio a explosão do mp3 e se tornou uma tecnologia ultrapassada. Agora o ap. de som tem falhas na leitura e o MD portátil já vendi, mas fui muito feliz na época :).

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Tenho um MD de mesa da Sony há mais de 10 anos e está encostado há muito tempo.

Por curiosidade, depois de ler esta matéria fui ligá-lo e para minha surpresa ele ainda está funcionando. Ainda tenho aparelho de som antigo mas o toca-fita dele foi a primeira coisa que parou de funcionar. Há uns anos atrás um VHS da JVC que ficou encostado também não funcionava mais. Não sei como o MD pode estar funcionando após tanto tempo parado.

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Quem se lembra da agenda eletronica? Do celular via satelite, q você podia falar até do pico do Everest? Do zip-drive? E das maquinas de escrever eletricas, com telinha de LCD para você corrigir na tela antes de errar no papel? Sao bons produtos, mas q por algum motivo nao duraram muito.

O disc-man q toca mp3 foi meu companheiro de viagens ( de onibus ) interrurbanas por mais de um ano e comprar na epoca um mp3 player com miseros 256mb de memoria interna era caro e nao achava vantajoso em relaçao ao CD de mp3 com seus "fartos" 700mb de espaço. Foi um bom produto enquanto as memorias flash's eram caras, mas depois se tornou um trambolho q gastava muita pilha com o barateamento das memorias flash e surgimento e popularizaçao dos cartoes de memoria.

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Em casa eu tenho 2 porta MDs abarrotados. Isso foi quando meu irmão voltou do japão e trouxe um player e gravador de MDs. Por aqui era comum achar só os players. Mas como foi visto, não fez sucesso por aqui e acabou no desconhecido de muitas pessoas.

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Lembro do MD. Realmente passou longe daqui do Brasil. Lembro que em 1997 um conhecido de um amigo meu voltou dos states com um, todo mundo babava achando que era o futuro. Só que eu achava bobagem ter um treco daquele que ninguém conhecia aqui porque como você vai comprar mais discos se ninguém nem sabe o que é aquilo?

Com o tempo a explosão do MP3 e a consequente exploração em massa desse nicho de mercado detonou o MD.

Lembro também do SPOT. Na época a revista Superinteressante dedicou uma reportagem de capa sobre o assunto - é, a revista que me fez entender muita coisa de física quando tinha 8 anos de idade já tinha virado o lixo que é hoje. Falava sobre o lance da geladeira, microondas, forno, cafeteira e tudo quanto era coisa conectados em rede na internet, de onde poderiam receber comandos e enviar mensagens ao dono. Fiquei me questionando que se uma pessoa é tão ausente da própria casa ao ponto de precisar ser lembrado pela sua geladeira que o leite acabou, então existe grande possibilidade dessa pessoa realmente não precisar de leite, pois ela simplesmente nao mora em sua própria casa.

Mas essas coisas são legais porque a tecnologia desenvolvida em suas aplicações sobrevive e pode ser utilizada em idéias mais inteligentes e práticas que talvez ninguém tenha tido ainda, mas que certamente um dia alguém terá.

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Eu só vi MD uma vez em uma festa no Colégio... Acho que em 1997 ou 1998... O cara do som usava MD... achei bem interessante.

Tive uma máquina de escrever elétrica com tela de LCD... era fantástico... digitar uma linha de cada vez ali no LCD e apertar o "enter" e a máquina bater a linha toda sozinha em seguida! Genial!

Lembro do Zip-drive...

Lembro de uma linha da "Telemar" (atual Oi), tal de DVI, que prometia chamadas por vídeo e internet discada com o dobro da velocidade normal.

Se não me engano esse sistema usava duas linhas analógicas para fazer chamadas de vídeo. E se não me engano era preciso ter dois fax-modem no computador e instalar um programa especial para tirar proveito da velocidade "dobrada".

Mas faz tanto tempo...

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[... e por isso a qualidade de áudio não era a mesma do CD (mas melhor do que a do MP3)...]

Como assim?

CD's de audio tem taxas de bits em torno de 140-160 bits/s, o que é perfeitamente possível com MP3, não me lembro bem da taxa máxima de bits/s que o MP3 é capaz de armazenar, mas lembro vagamente de ser algo na faixa dos 200 e tantos bits.

O problema é que no ínicio da popularização do MP3 os HD's eram pequenos e as conexões de internet mediocres, então as pessoas ripavam (copiavam) as músicas dos CD's com qualidade mais baixa, em torno de 96-128 bits. Isso tornava possível ter uma taxa de +/- 1 MB por minuto de música. Um CD de 60 min ocupava +/- 50 MB no HD.

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