O governo brasileiro resolveu abraçar a iniciativa da universidade norte-americana MIT de lançar um laptop popular de US$ 100, porém a mídia não especializada tem divulgado algumas informações que não refletem a realidade, o que tem causado grande confusão.
Primeiro, o laptop de US$ 100 não será vendido. Então, não se entusiasme pensando que poderá ter em casa uma máquina dessas. É um projeto onde o governo brasileiro comprará os equipamentos e os colocará gratuitamente nas escolas públicas do Brasil. Segundo, não se sabe se com os custos de importação e frete este aparelho realmente custará US$ 100 ao governo brasileiro. Mesmo fabricando o equipamento no Brasil, todos os componentes são importados, além do custo da contratação de uma empresa para fabricar os equipamentos. Terceiro, a mídia, citando o secretário de Política de Informática do Ministério de Ciência e Tecnologia, tem anunciado que o aparelho chegará ao mercado agora em novembro. No entanto no site oficial do projeto (https://www.laptop.org) diz que ele só chegará ao final de 2006 ou início de 2007. Na verdade o que deve acontecer neste mês é a apresentação pública do primeiro protótipo. Em nossa opinião, mesmo com toda a boa vontade do governo, sabemos que a burocracia brasileira inviabilizará qualquer tentativa de acelerar a implementação deste projeto.
Se o governo realmente adotar este computador, resta a nós ficarmos de olho para verificarmos se o governo realmente comprará cada laptop por US$ 100 e, no caso de uma empresa ser contratada para fabricá-lo, como e de quanto será este contrato – de repente cada máquina realmente saia por US$ 100, porém pode ser feito um contrato milionário com uma empresa para fabricá-lo, o que definitivamente fará com que o preço individual seja muito mais do que US$ 100, muito embora no papel apareça somente US$ 100.
Outro ponto de confusão é em relação às especificações técnicas do laptop. No site oficial do projeto diz que ele usará um processador de 500 MHz (possivelmente um Geode, o mesmo usado pelo PIC, o computador popular da AMD), monitor LCD de sete polegadas, memória flash de 1 GB, portas USB e rede sem fio, rodando Linux. Como você pode ver, a máquina não terá disco rígido, os dados serão gravados na memória flash. A tela de sete polegadas (17 centímetros medidos na diagonal) é minúscula, e não é para se esperar que o laptop tenha o mesmo tamanho de um notebook “de verdade”. Ainda não temos certeza da resolução da tela, a imprensa tem divulgado 640x480 mas no site do projeto fala em resolução de 1 megapixel, o que equivaleria a uma resolução maior do que esta.
Há também um ponto que não está claro para nós: os programas serão executados na própria máquina ou ela será um “thin client”? Caso ocorra a segunda opção, o tal laptop será apenas um terminal burro, onde todo o processamento é feito por um computador central que envia as telas para o laptop. Se isso se confirmar, a teoria do “laptop de US$ 100” cai por terra, por um simples motivo: cada escola necessitará de um servidor para lá de parrudo para poder atender a todos os clientes ao mesmo tempo. Com isso, o laptop custará US$ 100, mas quanto custará o servidor? Quem o fornecerá?
Se for este mesmo o caso, o verdadeiro custo de cada laptop não será somente US$ 100; teremos de pegar o preço de cada servidor e dividir pelo número de máquinas-cliente e somar aos tais US$ 100. E é aí que pode estar a galinha de ovos de ouro para alguma empresa “amiga do governo”. Será que a população e, principalmente, a mídia ficarão atentas a isso?
Veja também: Que fim levou o laptop de US$ 100 do governo brasileiro?
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