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Que fim levou o laptop de US$ 100 do governo brasileiro?


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Que fim levou o laptop de US$ 100 do governo brasileiro?

No início de 2005, a Organização Não-Governamental One Laptop Per Child (OLPC, Um Computador por Criança), ligada ao Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), desenvolveu um modelo de computador portátil de US$ 100, que seria usado como um instrumento educacional nas escolas públicas, tendo sido divulgado à época com enorme destaque pela mídia.

O projeto, financiado por diversos países, incluindo Brasil, Argentina, Nigéria, Tailândia e Líbia, e apresentado pelos pesquisadores Nicholas Negroponte e Seymour Papert, pretendia comercializar um milhão de notebooks a baixo custo, porém a produção teria que ser em grande escala, entre quatro e cinco milhões de unidades, para chegar ao preço proposto de US$ 100.

Na ocasião, Negroponte propôs ao governo brasileiro a compra de um milhão de notebooks no projeto-piloto e o estabelecimento de uma meta para levá-los a 40 milhões de estudantes até 2010, ao custo de US$ 50. A proposta não previa o pagamento de royalties, o que contribuiria para a redução do preço do dispositivo. Os custos de vendas, marketing, distribuição e lucro não incidiriam sobre o projeto. Além disso, uma nova tecnologia de tela baixaria o custo, assim como o uso de sistemas operacionais menos pesados.

Em dezembro de 2006, três centros de pesquisas do Brasil receberam 50 unidades do laptop, que ultrapassou o custo inicial, atingindo os US$ 150, com meta de disponibilizar mais mil máquinas para testes nas escolas a partir de janeiro de 2007.

O notebook pesava 1,5 kg, poderia ser usado mesmo em locais sem eletricidade, por conta da energia manual, uma espécie de cordão para carregá-lo, tinha uma alça plástica, duas antenas para conexão sem fio com redes de banda larga, touch pad com o triplo do tamanho convencional, teclado de material emborrachado e baixo consumo de energia. Conforme o site do produto, que já não se encontra mais ativo, o laptop teria tela LCD de sete polegadas com resolução de 1 megapixel, processador Geode de 500 MHz, 1 GiB de memória flash, portas USB e sistema operacional Linux.

O grupo de trabalho do governo que na época avaliou o projeto comentou que os principais entraves para colocá-lo em prática seriam a existência apenas de um conceito e protótipos, a viabilidade industrial para fabricar a máquina e, principalmente, a concorrência, visto que o Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun, em Campinas, também produziu um computador portátil de baixo custo, baseado no mesmo modelo de negócios do telefone celular.

Apesar dos obstáculos, o governo brasileiro realizou em 19 dezembro de 2007 o processo de seleção do projeto Um Computador por Aluno (UCA) pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com a empresa Positivo Informática considerada a vencedora parcial do leilão eletrônico, com o Classmate PC, em parceria com a Intel. A Positivo ofereceu R$ 98,18 milhões para um lote de 150 mil notebooks. Isto daria um valor de R$ 654,53 por aparelho, equivalendo, ao câmbio da época, a US$ 363,63. No entanto, o Ministério da Educação (MEC) divulgou que tentaria negociar um valor menor. Desde então, o processo de escolha do computador foi paralisado. A previsão era que o laptop fosse adotado nas escolas públicas no início de 2008. Diante disso, o notebook de US$ 100 do MIT foi descartado.

O dispositivo também foi distribuído em outros países, como Peru, Uruguai, Índia, Estados Unidos, Egito, África do Sul, Ruanda, Nigéria, porém o custo final e viabilidade comercial também afetaram no progresso do projeto.

Em 2008, financiamento anual da OLPC caiu de US$ 12 milhões para US$ 5 milhões, resultando na sua reestruturação em 7 de janeiro de 2009, com financiamento da fabricante de chips Marvell. Com isso, o laptop foi aprimorado, passando a conter processador VIA C7-M, chipset com motor gráfico 3D, decodificador de vídeo HD, 1 GiB de memória, 4 GiB ou 8 GiB de armazenamento e preço abaixo dos US$ 150. Entretanto, essa versão e outras planejadas, incluindo um tablet, foram canceladas após anúncio de que a produção não seria real. A OLPC informou que o projeto deixou de existir em 2014.

Atualmente, a OLPC se dedica a um ecossistema educacional, que permite às crianças de todo o mundo desenvolverem seu conhecimento, implementado por meio de governos, setor privado e organizações sem fins lucrativos em escolas, comunidades e até mesmo em centros de aprendizado móvel para promover novos canais de aprendizado, compartilhamento e autoexpressão por meio da tecnologia digital.

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Comentários de usuários

Respostas recomendadas

Já li sobre a intenção de oferecer smartphones ao povo pobre talvez visando o real digital

 

Depois de 5 anos o governo que arrume mais dinheiro pra voltar a oferecer celulares aos pobres pois os primeiros já terão esgotado suas baterias.

 

 

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  • Administrador
Em 09/02/2023 às 14:17, Ricardov disse:

O projeto foi atropelado pelos smartphones Android e serviços de nuvem.

 

O projeto era pré-smartphone, na época eu lembro que os projetos de netbook (lembra?) acabaram sendo mais interessantes.

 

É esse pessoal de ONG com suas utopias... o tal laptop de US$ 100 ia ser tipo Laptop da Xuxa.

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  • Obrigado 1
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De olho nesse possível mercado de PCs de custo ultra baixo, grandes empresas investiram em dispositivos "low tech" acessíveis. Foi a época do BOOM do eeePC 4G da ASUS e  de um monte de de soluções baratas que vieram à reboque que simplesmente acabaram com qualquer possibilidade de sucesso desse projeto.

 

Recentemente encontrei um exemplar do olpc (esse mesmo que aparece nas fotos com as crianças) numa feira de rua do Rio de janeiro e acabei comprando por curiosidade, infelizmente não está ligando, qualquer dia irei dar uma atenção pra ele.

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OLPC é da minha época de ensino fundamental.

 

Quando estudei teve uma época que a escola recebeu unidades do aparelho, e fui um usuário, a proposta do aparelho era boa, pena não ter ido pra frente.

 

Lembro que até procurei algum tempo atrás, achei alguns a venda, mas hoje em dia não se acha mais, boa parte usados, ou com defeitos e componentes faltando.

 

Na minha época a gente chamava o aparelho de X.O., porque vinha escrito isso na carcaça dele, atrás da tela, pelo menos do modelo que usei, vinha com Linux, e tinha uma outra área que parecia um sistema mais interativo para criança, fora 3 USB, 1 porta para cartão de memória, camera, microfone, alto-falante, e mais umas coisa no próprio aparelho mesmo.

 

O diferencial que achei nele era a possibilidade de usar o aparelho para comunicar com outra pessoa usando o mesmo aparelho e sem uso de internet, como ele tinha uma outra área diferente de sistema no X.O., tinha um app de conversa, e uma vez quando minha escola esteve em reforma a gente ia para uma faculdade, e lá usamos o aparelho, como não conectamos na rede wi-fi de lá, conseguimos todos se comunicar usando o app.

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Mesmo se desse certo acho que acabaria igual muitos computadores de escolas atuais feitos pela positivo, um computador obsoleto até para rodar o Windows 10, já tive contato com computadores que são enviados pelo governo para escola (como aluno mesmo), a maioria não era usado, porque tinha diversos problemas de sistemas que usam o HDD em SO modernos, o HDD 100%, além de o processador não ajudar. Até hoje não sei o porque investem em Lousas Digitais, sendo que não tem um computador que presta, me parece só marketing.

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  • Obrigado 1
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10 horas atrás, Gabriel Torres disse:

@Alexsandro Krzj Este seu ponto é importantíssimo e ficou de fora do artigo. Do que adianta dar laptops a estudantes com um sistema próprio, que não é usado no mercado? A pessoa terá contato com tecnologia, mas não com um sistema que é usado fora da escola, no mundo real.

 

Os sistemas que existem são vários Gabriel e grande parte com alguma semelhança. A pessoa pelo menos ficaria familiarizada com o uso da tecnologia em geral. Os custos altos e a dependência a um sistema proprietário não seria bom. É o que penso.

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