Introdução
A certificação 80 Plus foi um passo importante para mudar o cenário do mercado de fontes de alimentação: agora o consumidor antenado sabe que deve comprar uma fonte com eficiência de pelo menos 80%. Novos níveis de certificação (Bronze, Silver, Gold e Platinum) foram lançados. Mas talvez seja a hora de mudar a metodologia da certificação 80 Plus. Veja por que.
Para entender um pouco mais sobre eficiência e a certificação 80 Plus, leia nosso tutorial Entendendo a Certificação 80 Plus.
A principal deficiência na metodologia usada no processo de certificação 80 Plus é em relação à temperatura ambiente. A Ecos Consulting, empresa responsável pela certificação 80 Plus, testa fontes em uma temperatura ambiente de apenas 23° C.
Nós sempre nos perguntamos por que eles utilizam esta temperatura, já que em engenharia a temperatura ambiente padrão para a coleta de dados é 25° C. Não que coletar dados a 25° C em vez de 23° C vai fazer uma grande diferença no resultado final, mas nós sempre nos perguntamos por que este valor.
Nossas suspeitas são de que isto é feito para ajudar os fabricantes a obterem a certificação 80 Plus em fontes de alimentação que não conseguiriam obtê-la se elas fossem testadas em uma temperatura mais elevada – pois quanto menor a temperatura, maior é a eficiência. Portanto, quando eles começaram a vender a ideia da certificação 80 Plus e a obter clientes, esta temperatura baixa provavelmente os ajudou a convencer seus primeiros clientes.
O problema é que a menos que você tenha um micro muito básico, a temperatura dentro do gabinete nunca será tão baixa, especialmente se você tiver um computador voltado para jogos.
Em nossos testes nós coletamos dados a uma temperatura ambiente entre 45° C e 50° C, porque nós gostamos de testá-las no pior cenário possível e não no melhor cenário como a Ecos Consulting faz.
O motivo pelo o qual reclamamos tanto da temperatura vem do fato de que todos os semicondutores possuem um efeito chamado “de-rating”. A capacidade de eles entregarem corrente (e, consequentemente, potência) cai com a temperatura. Para ilustrar este fenômeno, considere as especificações do transistor MOSFET SPP20N60C3, um dos modelos mais usado em fontes de alimentação para computadores. O seu limite de corrente a 25° C é de 20,7 A, mas a 100° C a corrente máxima suportada por este transistor cai para 13,1 A, uma substancial queda de 37%. A resistência de transistores FET e MOSFET, um parâmetro chamado RDS(on), aumenta com a temperatura, significando que transistores passam a consumir mais para o seu próprio funcionamento quando a temperatura aumenta, reduzindo a eficiência. Outros parâmetros também variam de acordo com a temperatura.
Há algo de errado em usar uma temperatura mais baixa para testar as fontes? Não. É apenas nossa preferência testar as fontes em temperaturas do mundo real.
O “problema” é que durante nossos testes já vimos várias fontes que receberam uma determinada certificação 80 Plus mas que em uma temperatura maior não obtiveram o mesmo nível de eficiência. Por exemplo, algumas fontes rotuladas como “80 Plus Silver” precisariam ser rotuladas como “80 Plus Bronze” se fossem testadas a uma temperatura maior. Já vimos também algumas fontes que não conseguiriam nem mesmo obter a certificação 80 Plus padrão. Até agora só vimos dois fabricantes de fontes de alimentação rotularem fontes com um nível de certificação 80 Plus inferior ao obtido por causa deste fenômeno: Corsair e Thermaltake.
Portanto os consumidores precisam ser avisados de que a certificação 80 Plus é obtida em uma temperatura ambiente “de laboratório” e não em uma temperatura do mundo real, e fontes podem não obter a eficiência divulgada em altas temperaturas. Em nossa opinião a Ecos Consulting deveria reformular seu programa de certificação e começar a testar as fontes em temperaturas do mundo real. Uma solução de curto prazo seria o fabricante da fonte garantir que seus produtos possam obter a certificação 80 Plus a uma temperatura maior, assim como alguns fabricantes anunciam que suas fontes podem fornecer suas potências rotuladas em temperaturas elevadas como 40° C, 45° C ou 50° C.
Outro potencipal problema com a certificação 80 Plus é que eles não re-testam fontes “clonadas”. Nós exploraremos este assunto na próxima página.
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