AMD: análise de 2004 a 2007
Neste período, a AMD comprou a ATI e teve o maior prejuízo de sua história. Vamos aos dados detalhados.
2004 | 2005 | 2006 | 2007 | |
Faturamento | US$ 5.001 | US$ 5.848 | US$ 5.627 | US$ 5.858 |
Lucro/(Prejuízo) | US$ 91 | US$ 165 | (US$ 166) | (US$ 3.394) |
Ativos | US$ 7.844 | US$ 7.288 | US$ 13.147 | US$ 11.547 |
Dívidas | US$ 1.819 | US$ 1.370 | US$ 3.797 | US$ 5.269 |
Valor de mercado | US$ 8.083 | US$ 12.360 | US$ 11.160 | US$ 4.542 |
Empregados | 8.300 | 9.860 | 16.500 | 16.420 |
Presidente | Hector Ruiz | Hector Ruiz | Hector Ruiz | Hector Ruiz |
2004: lançamento do computador “popular” PIC
A partir de 2004 o faturamento da AMD ultrapassou a barreira dos US$ 5 bilhões, e ela voltou a dar lucro. A divisão do faturamento em 2004 ficou da seguinte forma: 50,5% com processadores e chipsets, 47% com memórias e o restante com soluções de conectividade.
É interessante notar que no balanço de 2004 a AMD diz claramente ter desvantagem em relação à Intel: “a Intel atualmente fabrica alguns de seus microprocessadores usando wafers de 300 mm com processo de 90 nanômetros, o que resulta em produtos que têm maior desempenho, usam menos energia e custam menos para fabricar. Atualmente nós estamos em transição para o processo de 90 nanômetros e esperamos usar wafers de 300 milímetros em 2006”. Por este trecho, há claramente a contatação da empresa de estar tecnologicamente dois anos atrás de sua principal concorrente no mercado de processadores.
Para superar essa limitação, a AMD estendeu seu acordo de fabricação com a IBM, para até o final de 2008, além de ter licenciado da IBM a tecnologia de fabricação de chips de 90 nm e 65 nm desta empresa.
Outros fatos relevantes de 2004:
- A FASL mudou de nome para Spansion.
- Assinou contrato com a empresa Chartered Semiconductor Manufacturing para que esta passasse a fabricar parte dos processadores da AMD. De acordo com o balanço, era esperado que a Chartered passasse a fabricar processadores para a AMD a partir de 2006.
- Anunciou a conclusão da Fab 36, ao lado da Fab 30, em Dresden, na Alemanha, para a futura fabricação de chips usando wafers de 300 mm. Neste ano, a Fab 30 utilizava wafers de 200 mm e processo de fabricação de 90 nm e 130 nm. As demais fábricas da AMD (Fab 25 em Austin, Texas e as suas três fábricas no Japão) eram usadas para a fabricação de memória flash. O encapsulamento e teste de processadores continuava sendo feito em Penang (Malásia), Singapura e Suzhou (China).
- A AMD lançou um computador de baixo custo para os mercados emergentes, chamado PIC, em um programa denominado “50x15”, de fazer 50% da população mundial ter acesso à Internet até 2015. Na realidade, era uma maneira de conseguir vender seus processadores Geode. A AMD desistiu deste computador dois anos depois. Para mais informações, leia “Que fim levou o computador de baixo custo PIC, da AMD?”
2005: dois núcleos
O principal lançamento da AMD em 2005 foram seus primeiros processadores de dois núcleos, tanto para o usuário final (Athlon 64 X2) quanto para servidores (Opteron). A empresa também lançou o Turion, uma família de processadores desenhada especificamente para o mercado de computadores móveis.
O faturamento da empresa aumentou consideravelmente, e a empresa apresentou lucro pelo segundo ano consecutivo. O faturamento da AMD em 2005 foi composto da seguinte forma: 64,8% por processadores e chipsets, 32,7% por memórias flash, 2,3% por soluções de conectividade e 0,1% pelo computador “PIC”.
Em 2005, a AMD estendeu o acordo de desenvolvimento de tecnologias de fabricação de chips com a IBM por mais três anos, vencendo agora no final de 2011. No balanço de 2008 aparece o valor que a AMD teve de pagar à IBM para ter acesso à tecnologia de fabricação de processadores deles: US$ 400 milhões, no total.
Neste ano, a AMD abriu um processo contra a Intel, alegando que a Intel tem um monopólio no mercado de processadores x86 por práticas abusivas que impedem grandes clientes da Intel de adquirirem processadores da AMD. No processo, a AMD acusou a Intel de:
- forçar seus principais clientes em acordos para o uso exclusivo de processadores Intel em troca de dinheiro, preços discriminatórios ou subsídios de marketing, desde que os clientes não usem processadores AMD;
- forçar outros clientes em acordos parcialmente exclusivos que incluem “rebates”, “mesadas” e fundos para o desenvolvimento de mercados caso os clientes limitem ou eliminem as suas compras de processadores AMD;
- estabelecer um sistema de incentivos discriminatórios e retroativos de compras em volumes altíssimos com a intenção de impedir clientes de comprarem quantidades significativas de processadores AMD;
- estabelecer cotas com revendedores-chave, efetivamente os forçando a ter um estoque gigantesco ou exclusivo de computadores baseados em processadores Intel e, com isso, limitando artificialmente a escolha dos usuários finais;
- forçar fabricantes de computadores e parceiros tecnológicos a boicotarem lançamentos e promoções de produtos da AMD.
A AMD e a Intel chegaram a um acordo em relação a este processo em 2009, como veremos.
No final de 2005, a Spansion (antiga FASL) abriu seu capital em bolsa. Com isso, o número de ações que a AMD tinha, que antes representava 60% do total de ações desta empresa, passou a representar 38% do total de ações disponíveis.
2006: a compra da ATI
O ano de 2006 foi um dos mais importantes para o mercado de hardware de computadores pessoais, pois foi quando a AMD comprou a ATI, fabricante de chips gráficos, indo de encontro com os planos da AMD de fabricar processadores com chips gráficos integrados. Com isso, a gama de produtos oferecidos pela a AMD aumentou consideravelmente, pois passou a incluir os produtos da ATI.
Como você pode ver na tabela, o número de funcionários da AMD deu um salto em 2006, por causa da compra da ATI.
A AMD pagou US$ 4,3 bilhões em dinheiro e 58 milhões de ações da AMD (avaliadas em US$ 1,1 bilhão). O custo total da transação foi de US$ 5,6 bilhões. Para efetuar essa aquisição, a AMD tomou US$ 2,5 bilhões de dólares emprestados. Sabemos hoje – e fato admitido publicamente pela própria AMD em seus balanços seguintes, como veremos – que a empresa pagou muito mais do que devia pela a ATI, o que só fez prejudicar a saúde financeira da firma.
O faturamento de 2006 ficou dividido da seguinte forma: 90% com processadores e chipsets (AMD), 2,6% com produtos embarcados, 5% com chips gráficos e chipsets (ATI), 2% com produtos para eletrônicos (decodificadores de TV, por exemplo).
Com a abertura de capital da Spansion em dezembro de 2005, a AMD parou de fabricar e vender memórias flash. Isso explica o aumento da participação de processadores de 64,8% para 90% no faturamento da empresa.
Portanto, devemos levar em conta que a aparente queda do faturamento da AMD em 2006 é causada pela perda de sua divisão de memórias flash; na realidade, a receita vinda de processadores aumentou consideravelmente, de US$ 3,8 bilhões para US$ 5,1 bilhões.
Outros fatos relevantes de 2006:
- A AMD desiste do computador “PIC”.
- Em 2006, a empresa vendeu 21 milhões de ações da Spansion, reduzindo sua participação nesta empresa para 21%.
- Em 2006, a AMD anunciou a abertura de centros de pesquisa e desenvolvimento em Xangai (China) e Fort Collins (Colorado, EUA).
- A Fab 36 entrou em operação, fabricando chips com wafers de 300 mm e processo de fabricação de 90 nm e 65 nm.
- Assinou acordo para a possível abertura de fábrica para a produção de wafers de 300 mm no Luther Forest Technology Campus, no estado de Nova Iorque (EUA).
- Em relação aos chips da ATI, estes eram fabricados por duas empresas, a TMSC e a UMC. A fabricação de placas de vídeo (modelos de referência e amostras de engenharia) era terceirizada para as empresas Celestica, Fairway e PC Partner.
- A AMD herdou mais de 50 processos judiciais existentes contra a ATI.
2007: maior prejuízo da história da AMD
Em 2007, o faturamento da AMD aumentou um pouco e certamente desapontou, pois com a compra da ATI, era esperado que o faturamento da empresa aumentasse consideravelmente, o que não aconteceu. O faturamento oriundo de processadores caiu 12%; de acordo com a AMD, isto ocorreu por causa da diminuição de preços dos processadores e pela demora da AMD em lançar processadores de quatro núcleos.
Além disso, neste ano a AMD amargou o seu maior prejuízo até hoje, de US$ 3,1 bilhões. Para cobrir o buraco, a empresa teve de tomar mais dinheiro emprestado.
A divisão de faturamento neste ano ficou da seguinte forma: 78,2% com processadores e chipsets (AMD); 15% com chips gráficos; e 6,8% com chips para eletrônicos.
O que chama a atenção é o fato de o faturamento oriundo da antiga ATI ter feito relativamente muito pouco para aumentar o faturamento da AMD.
Além disso, o valor de mercado da AMD desabou, e ao final de 2007 a AMD estava valendo menos da metade que valia um ano antes. O mais preocupante é o fato de a AMD, ao final de 2007, valer menos do que a ATI valia (na data de venda da ATI, esta tinha um valor de mercado de US$ 5 bilhões e ao final de 2007 a AMD valia US$ 4,5 bilhões). Lembrando que a AMD era uma empresa muito maior que a ATI, com fábricas (que a ATI nunca teve).
É sempre elucidativo ler no balanço de 2007 que a AMD tem total noção da realidade:
“Nós esperamos que a Intel mantenha a sua posição dominante e continue a investir pesadamente em marketing, pesquisa e desenvolvimento, novas fábricas e outras empresas de tecnologia. A Intel tem substancialmente mais recursos financeiros do que nós e, dessa forma, gasta valores substancialmente maiores em pesquisa e desenvolvimento e capacidade de produção do nós gastamos. A Intel lançou seus processadores de quatro núcleos durante o quarto trimestre de 2006. Nós começamos a vender nossos primeiros produtos de quatro núcleos para servidores em agosto de 2007 e para computadores de mesa em novembro de 2007. Porém, nós não vendemos volumes significativos desses produtos em 2007, mas esperamos vender em volumes mais significativos no primeiro semestre de 2008. Como a Intel fabrica uma porção significativamente maior de seus processadores usando tecnologias mais avançadas ou introduz novos produtos competitivos no mercado antes da gente, nós podemos ficar vulneráveis às estratégias agressivas de marketing e preço da Intel para processadores.”
Além disso, no balanço de 2007 a AMD finalmente se dá conta que a compra da ATI não foi um bom negócio, e registra US$ 1,6 bilhão como perda na transação, isto é, neste momento a AMD avalia que pagou US$ 1,6 bilhão a mais do que deveria. Destacamos os seguintes trechos: “nós não temos como garantir que a nossa integração da ATI resultará em todos os benefícios que antecipávamos” e “eles [valores acima] são baseados em uma nova previsão financeira de longo prazo para as operações da antiga ATI, que traz valores menores do que previamente calculados”.
Outros fatos relevantes de 2007:
- Converteu a Fab 36 para o processo de fabricação de 65 nm, e iniciou a conversão da Fab 30 para passar a usar wafers de 300 mm em vez de 200 mm. Ao final do processo de conversão, a Fab 36 seria renomeada para Fab 38. A Chartered continuou a fabricar processadores para a AMD de forma a atender à damanda.
- Vendeu 14 milhões de ações da Spansion, reduzindo sua participação nesta empresa para 10,4%.
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